COP30: Transição em África só com custo de capital mais baixo
Para mobilizar fundos para a transição verde em África há que "mudar a governação dos bancos multilaterais, para que os países africanos tenham mais voz e reconhecer as instituições financeiras africanas como credores preferenciais", defende Carlos Lopes. Uma nova arquitectura financeira "que reduza os custos do capital".
O que esperam os africanos da COP30, que decorre até 21 de Novembro, em Belém, Brasil? A pergunta ressoa nos bastidores da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que junta líderes políticos, empresários e ambientalistas em plena Amazónia, mas a resposta deverá ficar pendurada, tendo em conta a experiência de conferências anteriores, em que as promessas não passam de proclamações.
"Em vez de continuar à espera de ajuda, África procura mobilizar investimentos na sua transição verde, não porque os países ricos "devam" aos africanos - embora devam -, mas porque África pode ajudar o mundo a enfrentar as alterações climáticas", sublinha Carlos Lopes, presidente do Conselho da Fundação Africana para o Clima e enviado especial para África na COP30.
Para isso é preciso progressos em quatro frentes, segundo o antigo subsecretário-geral das Nações Unidas, referindo-se aos custos do capital, mercados de carbono, à necessidade de redefinir a adaptação, deixando de ser tratada como projecto humanitário para ser integrada pelos governos nas suas políticas industriais, e, em quarto, os minerais críticos. "África possui cerca de 85% do manganês mundial, 80% da platina e do cromo, 47% do cobalto, 21% do grafite e 6% do cobre.
Em 2022, só a República Democrática do Congo foi responsável por mais de 70% da produção global de cobalto", ilustra o guineense Carlos Lopes. África "tem consciência" dessa riqueza. Mas sabe também que "a riqueza em recursos naturais não se traduz necessariamente em crescimento económico e desenvolvimento" e que "só com a construção de cadeias de valor no continente", África "pode evitar a "maldição dos recursos" e garantir que gerem emprego e indústrias locais", diz.
Um elefante na sala
O subsecretário-geral da ONU Jorge Moreira da Silva concorda que a questão do financiamento é um "elefante na sala". O tema exige uma discussão séria, porque "não se pode dizer a um país em desenvolvimento que deixe o petróleo no chão, o gás no chão, porque é bom para o planeta", sem que os países mais ricos apoiem nessa descarbonização.
"Os países mais ricos atribuem aos países mais pobres cerca de 120 mil milhões USD por ano, quando aquilo que os países em desenvolvimento precisam são 2,7 biliões USD" por ano, afirmou o português Jorge Moreira da Silva, em entrevista à Lusa, um dia antes de a ONU lançar um plano de arrefecimento sustentável para combater o calor extremo que poderá reduzir em 64% as emissões de gases poluentes até 2050. O plano foi lançado terça-feira, dia em que activistas climáticos e indígenas invadiram a área restrita da COP30, gritando que "a crise climática é uma crise de saúde".
Segundo o director executivo do Gabinete das Nações Unidas para os Serviços (UNOPS), a dependência dos combustíveis fósseis de muitas economias em desenvolvimento, como Angola e Nigéria, exige que os países desenvolvidos financiem a transição energética no Sul Global.
Trata-se de cumprir compromissos firmados na COP29. "Acordou-se em Baku [Azerbaijão], que dos 120 mil milhões USD teríamos de ir para os 300 mil milhões USD", por ano, mas além desse esforço público ficou estabelecida uma meta "de mobilização de capitais privados, para que o total atinja 1,3 biliões USD por ano", recordou Moreira da Silva.
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