Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Do globalismo ao regionalismo: como se adaptar ao sistema económico multipolar

CONVIDADO

A flexibilidade do modelo de integração euroasiático, que combina regras uniformes com a consideração das especificidades nacionais, é de grande interesse tanto para os Estados-membros como para os países-observadores.

"Este ano aderimos à Zona de Livre Comércio da SADC, reforçando a nossa integração no mercado regional", proclamou o Presidente da República e Presidente da União Africana, João Lourenço, durante a sua recente mensagem sobre o Estado da Nação, destacando que esse passo tem como objectivo desenvolver o intercâmbio, a competitividade e o crescimento do sector empresarial privado.

Além disso, o Presidente do País ressaltou o compromisso com o fortalecimento da Zona de Comércio Livre Continental Africana. Ele afirmou que as medidas actualmente tomadas para melhorar a integração regional serão consideradas históricas pelas gerações futuras, dada a sua importância estratégica. A transição moderna para um modelo de governação policêntrico e multipolar coloca, naturalmente, as alianças entre vizinhos geográficos em primeiro plano. No meio da instabilidade económica global causada por actores distantes, os países estão a tentar unir-se aos seus vizinhos para enfrentar a inevitável tempestade.

À luz da integração em curso no continente africano, que nós saudamos, gostaria de demonstrar que as relações entre a Rússia e os seus vizinhos podem servir de modelo da criação de uma das associações económicas mais eficazes do nosso tempo - a União Económica Euroasiática (UEE). Trata-se de um projecto único de integração económica que surgiu no espaço pós-soviético, baseado nos princípios do benefício mútuo e da parceria igualitária. Quando foi criada, em 2015, o objectivo era formar um espaço económico unido que garantisse a livre circulação de bens, serviços, capitais e mão-de-obra.

Ao mesmo tempo, ao contrário de uma simples área de comércio livre, a UEE exigia um nível mais profundo de coordenação entre as políticas económicas dos Estados-membros para alcançar a máxima eficácia, incluindo a implementação de políticas coordenadas nos sectores económicos essenciais.

Atualmente, a UEE reúne cinco Estados: Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão e Rússia, formando um mercado comum com capacidade para mais de 184 milhões de consumidores. Cada um destes países contribui de forma única para o desenvolvimento dos processos de integração, possuindo características económicas específicas e vantagens competitivas.

Além disso, quatro Estados - Cuba, Irão, Moldávia e Uzbequistão - têm o estatuto de observador, demonstrando o crescente interesse de outros países na integração euroasiática e o potencial para uma maior expansão da organização, incluindo actores não regionais. Em comparação com associações regionais semelhantes de diferentes partes do mundo, a integração euroasiática difere nas suas abordagens, conseguindo uma implementação mais bem-sucedida dos acordos delineados.

Por exemplo, ao contrário do USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá), que se centra principalmente na liberalização do comércio, a UEE prevê uma integração mais profunda, incluindo a formação de mercados comuns e a implementação de políticas industriais coordenadas. Além disso, um dos principais desafios enfrentados por outras organizações de integração é a assimetria no desenvolvimento económico entre os países- -membros e a necessidade de equilibrar os interesses nacionais. Aqui, a UEE demonstra a sua elevada competência para superar os desafios modernos. Assim, na reunião de 2024 do Conselho Intergovernamental em Minsk, foram tomadas decisões estrategicamente importantes com o objectivo de aprofundar os processos de integração.

Uma conquista fundamental foi a aprovação das Orientações Principais da Cooperação Económica até 2030 e da Perspectiva até 2045. Durante a existência da União (dados de 2015 a 2024), o PIB combinado dos países da UEE aumentou de 1,6 biliões de dólares para 2,57 biliões de dólares, o volume de comércio mútuo entre os Estados-membros mais do que duplicou (de 44,6 mil milhões de dólares para 96,5 mil milhões de dólares) e o volume de comércio com países terceiros aumentou 1,4 vezes.

As tendências positivas continuam em 2025: de Janeiro a Junho de 2025, o PIB da União cresceu 1,8% (em comparação com o mesmo período de 2024). A UEE está na vanguarda da tendência global de construção de sistemas independentes de liquidações financeira e bancária e de mecanismos de pagamento soberanos, protegidos de acções de terceiros.

A participação das moedas nacionais, principalmente o rublo russo, nas transacções económicas da UEE já ultrapassa os 90%, o que se tornou também um factor importante para a resiliência das economias dos países-membros face à instabilidade global. O desenvolvimento da UEE está associado a uma integração mais profunda na esfera digital e à formação de mercados comuns de energia e de transportes. É dada especial atenção aos projectos no domínio da economia "verde" e do desenvolvimento sustentável, em consonância com as tendências globais.

A experiência da UEE demonstra que a integração económica regional pode ser uma ferramenta eficaz para garantir o crescimento económico sustentável, especialmente no contexto da transformação da arquitectura económica global. A flexibilidade do modelo de integração euroasiático, que combina regras uniformes com a consideração das especificidades nacionais, é de grande interesse tanto para os Estados-membros como para os países-observadores.

*Alexander Bryantsev , Encarregado de Negócios da Rússia em Angola

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo