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Opinião

Em sentido contrário

EDITORIAL

Os nossos dirigentes teimam em viver num mundo diferente, numa cloud superior, sem terem a noção da realidade, sem baixarem à terra, sem ouvirem as pessoas,

Queria destacar as palavras do sociólogo e deputado do MPLA, Paulo de Carvalho, que, tal como eu, embora não o diga directamente, vê o perigo do distanciamento dos nossos dirigentes com os cidadãos, teimam em viver num mundo diferente, numa cloud superior, sem terem a noção da realidade, sem baixarem à terra, sem ouvirem as pessoas.

Esta insistência de que está tudo bem, que estão a fazer o melhor sem olhar para as consequências, julgando-se acima de todas as opiniões e julgamentos, faz-me lembrar a história do condutor que ia na ponte em sentido contrário, recebe uma chamada da mãe que lhe diz, "tem cuidado meu filho, está um maluco a circular na ponte em sentido contrário", e este responde, "não é um, são todos, mãe". Entendem?

Agora, sem brincadeiras, e como já disse anteriormente, ou o governo promove a inclusão e ouve as pessoas e os profissionais dos mais diversos sectores, muda de política económica, deixa de governar com medidas que, apesar de parecerem lógicas para os consultores estrangeiros que "vivem" nos seus gabinetes são perfeitamente desajustadas à nossa realidade, ou então não temos a possibilidade de inverter este caminho de empobrecimento para a quase totalidade dos cidadãos, que depois se reflecte em convulsões sociais com cada vez mais frequência.

Por exemplo, esta semana escrevemos sobre o novo PREI, que agora vai ter três órgãos hierarquicamente dependentes uns dos outros, e que depois tem a obrigatoriedade de reportar ao Presidente, movimentando nesta cadeia dezenas de pessoas. Depois traz como chamariz a possibilidade de os aderentes poderem recorrer a microcrédito, não havendo, por exemplo, como acontece noutras latitudes, isenção de impostos durante um determinado período de tempo.

Mas para lá chegarem, ao microcrédito, têm a obrigatoriedade de frequentar uma formação com noções de gestão. Vocês acham mesmo que só olhando para estas premissas a coisa vai resultar? Depois temos o apoio às lojas vandalizadas sob a forma de financiamento com juro bonificado, mas só para empresas com o seu registo comercial actualizado e sem qualquer dívida ao fisco e à Segurança Social. Tirando as grandes cadeias, apenas uma dezena, isto vai aplicar-se a mais quem? Dentro daquilo que é a nossa realidade, quantos pequenos e médios empresários individuais vão beneficiar disto? E será que querem o apoio desta forma, aumentando-lhes as dívidas?

Entendem agora o que digo? Parece que não vivem no mundo do qual faço parte. Com outros milhões de angolanos.

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