Tolerância e inclusão
Angola tem tudo a ganhar com uma geração de cidadãos equilibrados, que sabem ouvir e sabem argumentar sem ofender, que têm mais ideias para o País que não seja apenas o confronto. Temos de ser mais inclusivos, aprender a admitir que não temos sempre razão, que os outros também nos podem ajudar a resolver os nossos problemas, que a felicidade não é individual mas colectiva, e que objectivamente.
No rescaldo dos 50 anos de Independência, duas coisas parecem certas - o País está consolidado como Nação Independente e precisamos agora de arranjar uma forma de melhorar a vida de todos. Nem todos os angolanos conseguem ter uma vida digna no seu território, existem diferenças abismais entre as condições nos centros urbanos e a vida no meio rural, entre as diversas classes sociais que emergiram da independência, e ainda estamos muito longe de ter uma sociedade construída sob os pilares do mérito, onde os mais capazes, os mais trabalhadores, os mais sérios e solidários, são recompensados.
Mas isso é um caminho e não vale a pena virar as costas, porque será com o esforço de todos que estas coisas se podem vir a alterar. Um dos fenómenos que nos deve preocupar é esta agressividade crescente na troca de argumentos sobre determinados factos, que facilmente resvalam para a ofensa, para uma linguagem de agressividade, xenófoba, do "nós" e do "eles", como se não fossemos todos filhos da mesma Pátria
Por vezes, pergunto-me a quem é que interessa este ambiente, esta coisa de parecer que nos vamos "bater" outra vez, alimentado de um lado e do outro da barricada com discursos carregados de ódio que não são inocentes e que, acredito, obedecem a uma estratégia que só beneficia os próprios instigadores. Caríssimos compatriotas, temos de nos libertar desta coisa, de ver conflito em todas as esquinas, de destilar de dentro para fora esta fúria que nos afasta.
Angola tem tudo a ganhar com uma geração de cidadãos equilibrados, que sabem ouvir e sabem argumentar sem ofender, que têm mais ideias para o País que não seja apenas o confronto. Temos de ser mais inclusivos, aprender a admitir que não temos sempre razão, que os outros também nos podem ajudar a resolver os nossos problemas, que a felicidade não é individual mas colectiva, e que objectivamente, tal como disse o ministro Ricardo Viegas D"Abreu, "O Futuro é aqui e é de todos nós".
Isto tem de ser assumido por todos nós os que queremos esta terra para viver, a começar pelos que estão sentados no cimo da montanha, e também pelos que estão a tentar escalar a colina. Aliás, o que mais confusão me faz é perceber que os principais instigadores desta postura de ódio, de um lado e do outro da barricada, afinal estão a preparar-se para se pôr ao vento, que é como quem diz, envelhecer longe daqui. Querem sacar o que puderem e depois arranjar uma desculpa para sair quando não for mais confortável.
Mas nós, os que queremos ficar, não podemos ser usados como simples marionetes nesta batalha. Temos de contrariar a tentação deste discurso, embora reconheça que não é fácil quando somos tratados por anti-patriotas porque pensamos de maneira diferente, ou de fracos, quando expomos os nossos argumentos de forma tranquila. Mas esse é o caminho. Se queremos que a nossa opinião conte, também temos de ter a capacidade de admitir que outros olhem para as mesmas coisas de forma diferente.
Vamos ser entre nós tolerantes, inclusivos, verdadeiros, sérios e construir uma Angola melhor. Com os olhos no retrovisor para não cometer os erros do passado, mas com a humildade suficiente para reconhecer que também erramos. Não há verdade absolutas nem solução mágicas. Tudo o que virá a seguir para Angola, depende de nós, do nosso envolvimento, do nosso trabalho e da nossa crença. E, já agora, um bocadinho de planeamento e organização também ajuda...
Edição 852 do Expansão, sexta-feira, dia 14 de Novembro














