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Opinião

Fica só já assim, yá?

Editorial

"Tendo em conta a evolução económica mais recente e de modo a facilitar a implementação do Programa de Estabilização Macroeconómica e do Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022, o Executivo solicitou o ajustamento do programa de apoio do FMI [Policy Coordination Instrument/PCI, em inglês, ou Programa de Coordenação de Políticas/PCP solicitado por Luanda a Washington em Abril de 2018], adicionando-se ao mesmo uma componente de financiamento."

Foi desta forma "como quem não quer a coisa" que o Governo anunciou, esta segunda-feira, 20 de Agosto, no quarto parágrafo de um comunicado colocado no site do Ministério das Finanças (MinFin), a solicitação ao FMI de um Programa de Financiamento Ampliado/PFA.
Depois de dois anos e meio a negar as evidências, jurando a pés juntos que não precisava de dinheiro do FMI, mas apenas de apoio técnico, o Governo decidiu, finalmente, pedir um financiamento, insistindo no entanto que não se trata de um resgate.
"Não estamos a falar de um resgate tal como aconteceu em países europeus como Portugal ou a Grécia", garantiu o Presidente João Lourenço, à margem da sua visita oficial à Alemanha.
Um discurso semelhante ao adoptado pelo ex-ministro das Finanças, Armando Manuel, há dois anos e meio.
Em 6 de Abril de 2016, Angola pediu pela primeira vez o PFA ao FMI, o que foi interpretado como um pedido de resgate. Irritado com a interpretação, o Governo angolano, pela voz de Armando Manuel, convocou uma conferência de imprensa para o dia seguinte para dizer que havia solicitando apenas apoio técnico e não dinheiro.
Para que não subsistissem dúvidas um comunicado do MinFin divulgado no mesmo dia esclareceu que, ao contrário de programas de austeridade do FMI de que beneficiaram muitos países europeus (Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha) ou africanos (como a Zâmbia), a assistência solicitada por Angola ao FMI diferia por centrar-se no apoio à diversificação económica associado a reformas que apoiam a melhoria do sistema de pagamentos.
Contudo, uma consulta ao site do FMI revela que, por exemplo, o resgate português foi feito precisamente ao abrigo do PFA/EFF a que Angola pretende novamente recorrer.
Na tentativa de fazer crer que Angola vivia uma situação desafogada, Armando Manuel quase sugeriu que era Angola que ia apoiar o FMI. O PR não foi tão longe, mas as suas declarações revelam que o resgate continua a ser uma palavra maldita para Angola.
Pela minha parte, fica só já assim, yá? Que venha o kumbu e não se fala mais em resgate.