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Opinião

Do País dos cofres vazios ao País cheio de dívidas

Editorial

A dívida pública angolana atingiu 91% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2018. A má notícia está estampada no conjunto de documentos disponibilizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no âmbito do pedido de apoio financeiro de Angola através do Programa de Financiamento Ampliado, cuja leitura recomendo vivamente.

Traduzindo do economês a dívida pública angolana é equivalente a 91% do rendimento gerado em Angola durante um ano.

Comparando com a dívida das famílias até nem parece muito. Um casal que ganhe um milhão Kz por mês ou 13 milhões Kz por ano e compre um apartamento de 30 milhões Kz parte com um nível de endividamento de 230%.

Se para uma família 91% de endividamento até nem é muito elevado, para um País é. Pelo menos avaliado pelos padrões do FMI que considera como de "alto risco" em países emergentes níveis de endividamento a partir dos 70%.

Dívida pública implica pagamento de juros e amortizações, o chamado serviço da dívida. No ano passado o serviço da dívida consumiu 100% das receitas orçamentais. Ou seja, todo o dinheiro arrecadado pelo Estado foi para pagar a dívida. Na prática não foi assim porque uma parte da dívida antiga foi paga com nova dívida.

Só de juros o Estado pagou em 2018 cerca de 1,2 biliões Kz mais do que os 950 mil milhões Kz orçamentados para a educação e a saúde. Ou seja, no ano passado o Estado gastou em juros mais 30% do que na saúde e educação juntas.

Além dos cofres vazios, João Lourenço encontrou um país cheio de dívidas. No final de 2017 a dívida pública era de 68,5% do PIB - JLo tomou posse em Setembro.

Será que estamos sobreendividados? A pergunta não é retórica. Confesso que não sei mesmo se estamos sobreendividados. Mas que há cada vez mais sinais nesse sentido não tenho dúvidas.

O FMI diz que as medidas previstas no programa de financiamento ampliado vão colocar a dívida pública em rota descendente, mas alerta que o País continua muito vulnerável a choques externos, nomeadamente descidas do petróleo.

Vamos esperar o melhor mas preparemo-nos para o pior.

Editorial da edição n.º 505, de 4 de Janeiro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.