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Opinião

Demasiados desacertos

Editorial

A reacção do The Economist à previsão de crescimento do PIB para 2020 inscrita na proposta do OGE para o próximo ano deve merecer reflexão. Não pela convicção, os consultores consideram os tais 1,8% de crescimento como "irrealista", mas pela argumentação.

Antes de passar à análise económica, o relatório do The Economist lembra que, relativamente ao crescimento para 2019, o governo angolano fez uma primeira previsão no início de 2018 (PDN) que apontava para +1,8%, nove meses depois no OGE 2019 passou para + 1,2%, seis meses depois no OGE 2019 revisto alterou o valor para +0,4%, e agora, em Outubro, emendou para -1,1%.

Ou seja, independentemente da conjuntura económica do País, o The Economist "insinua" que os valores apresentados pelo governo não são para levar muito a sério e, talvez por isso, acrescentam que, para 2020, a economia angolana voltará a ter um decréscimo do PIB.

Na verdade, assistimos com excessiva frequência à divulgação de previsões de indicadores básicos da nossa economia, que se revelam muito diferentes do que vem a acontecer. Não é normal prever um crescimento com um ano de antecedência de 1,8% do PIB e depois a verdade ser um decréscimo de 1,1%. Não é normal que no início de 2018 se tenha previsto uma inflação para 2020 de 13,2% e agora a proposta do OGE fala já de 24,3%. Que nessa mesma altura a previsão de produção de petróleo estimada para o próximo ano fosse 642,3 milhões de barris e, menos de dois anos depois, esta baixasse para 524,5.

O que tento dizer é que os desvios são admissíveis, mas com esta dimensão, e em curtos espaços de tempo, não fazem qualquer sentido e põem em causa todos os valores que o Governo apresenta. E isso tem depois reflexos directos na confiança dos investidores nacionais e estrangeiros em estarem no nosso mercado. Há sempre explicações para estes fenómenos, mas elas devem ser equacionadas e previstas quando se apresentam previsões com esta importância.

As explicações para que isto aconteça de forma sistemática podem ter duas motivações - a política e a técnica. Relativamente à primeira, pode pensar-se que existe uma indicação superior para ir maquilhando os números, de forma a disfarçar a realidade, tendo em vista os superiores interesses do País.

Relativamente à segunda, pode pensar-se que, apesar das dezenas de consultores externos pagos pelo País para apoiar os técnicos do Ministério das Finanças e da Economia, estes não têm competência técnica para fazer este trabalho.

Entre a política e a incompetência está a explicação para este "desacerto". Eu e muitos outros cidadãos que nos interessamos por estas matérias gostaríamos de perceber. Não podemos fingir que não se passa nada e que isto é normal... Não é mesmo!


Editorial da edição 548 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Novembro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.