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Opinião

Confiança no País

Editorial

Sempre defendi que a confiança é o factor mais importante para o desenvolvimento económico de uma empresa, de um País. E esta deve ser uma questão tratada com seriedade suficiente para entender os factores que sustentam a sua ausência. Não bastam leis bonitas e "potes de ouro" para atrair investidores.

É necessário que eles sintam que vale a pena ir para este ou para aquele destino com as suas poupanças, pois hoje o critério de escolha não se esgota no lucro potencial e mistura-se com a credibilidade das instituições, com a sensação de ser bem recebido, e pelo sentido de justiça e solidariedade que o próprio Estado desenvolve na relação com os seus cidadãos. E também pela seriedade das pessoas envolvidas em todo o processo de concurso e adjudicação.

Angola recebeu esta semana um cartão amarelo do investimento estrangeiro com apenas três propostas, e uma delas da Sonangol, para as concessões petrolíferas das bacias de Benguela e do Namibe, e com a fraca resposta dos candidatos às concessões mineiras e que levou ao adiamento do seu prazo de fecho. Mas mais importante é o facto de não se terem apresentado novos investidores, de a quase totalidade das propostas serem de empresas ou consórcios que já estão no nosso mercado. E de estarmos a falar dos dois sectores mais atractivos da nossa economia - o petróleo e os diamantes.

Em vésperas do início de um "muito ambicioso" projecto de privatização que engloba as mais importantes empresas do País, estas não são seguramente boas notícias. Talvez seja acertado fazer uma reflexão séria sobre a forma como o Governo está a comunicar as mudanças que na verdade estão a acontecer, de acabar com alguns "tiques" da anterior República, de abandonar de vez o discurso redondo mas pouco credível de que somos os melhores, os mais perfeitos, os mais iluminados.

Fez escola no discurso da nossa governação que o orgulho de ser angolano se media na grandiosidade dos projectos que fomos apresentando ao longo de décadas, sendo que mais de metade nunca chegaram a concretizar-se. Esta enorme diferença entre a palavra e a prática terá sido um dos factores que mais contribuiu para os investidores internacionais tenham perdido confiança no País. Vêm porque as margens de lucro são grandes, ganhar rápido e sair.

E é aqui que o comportamento do Estado tem que mudar. Não pode alimentar "mentirinhas" apenas para manter uma certa imagem, porque depois cometem-se erros de tal dimensão, que tudo o resto fica em causa. Por exemplo, alguém acredita que inflação possa tenha desacelerado em Outubro, o mês em que foi implantado o IVA e que o próprio Estado através das suas instituições formalizou dezenas de processos por especulação de preços? Sinceramente...

Editorial da edição 550 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Novembro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.