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"É necessário poupar, combater o desperdício e eliminar o ímpeto consumista"

Juliana Ferraz

Defensora da criação de um observatório para melhorar a qualidade das decisões, Juliana Ferraz sublinha que uma das formas de combater a informalidade é melhorar o cenário macroeconómico, estimular o empreendedorismo e formalizar as empresas.

Qual é "O Poder da Economia Informal", título do livro que lançou no dia 30 de Janeiro?
O poder da economia informal reflecte as forças de mercado que as actividades informais apresentam na nossa economia. Este sector da economia é visto como um complemento da economia formal, ou seja, ele resulta da incapacidade da economia gerar um nível de eficiência económica que permita melhorar a combinação de factores de produção, que têm impacto na criação de emprego e de riqueza.

Como definiria a actual situação económica do País?
A situação económica não é confortável na medida em que a economia passa por um período de baixo crescimento, podendo ser considerado recessivo, existindo dificuldades para obter a arrecadação necessária para suportar o nível de despesa pública. Por outro lado, o nível de produtividade e de emprego não tem crescido como desejado. O desafio passa por estimular a produção interna, melhorar a produtividade e aumentar a capacidade produtiva.

O que influência o mercado paralelo em Angola?
Existem vários factores que influenciam o crescimento da economia paralela em Angola, que vão dos factores conjunturais, ligados à economia internacional e que impactam decisivamente a nível interno - é o caso, por exemplo, da trajectória dos preços do mercado petrolífero, que tem impacto directo nas nossas contas públicas - e os factores estruturais, que têm a ver com o nível de maturidade da nossa economia, no que toca à produtividade, qualificação dos trabalhadores, qualidade das políticas de regulação e concorrência, etc.

Defende a criação de um observatório da economia informal em Angola. Quais são os benefícios e como funcionaria?
O observatório sobre economia informal deve ser visto como uma instituição vocacionada para o estudo do fenómeno da economia informal, controlo, monitorização do seu crescimento e propostas de mitigação. Não basta formalizar, é necessário que se compreenda o fenómeno nas suas várias dimensões, que se acompanhe a sua evolução numa base regular, e que se usem as medidas adequadas em cada caso, em particular. A criação de um observatório terá como benefícios melhorar a qualidade das decisões públicas, no âmbito da economia informal, e contribuir para a monitorização e redução do fenómeno.

Como combater a informalidade num contexto em que o País passa pela 4.ª recessão consecutiva?
Uma das formas de combater a informalidade é melhorar o actual cenário macroeconómico, estimular o empreendedorismo e formalizar empresas. Existem grandes iniciativas empresariais que partem de actividades informais, e que devem ser incentivadas a aderir ao processo de formalização. A informalidade pode ser combatida neste contexto, diversificando, formalizando a economia, aumentando as receitas fiscais por via de contribuições sociais, etc.

Depois de "Inovar para prosperar" lança agora " O poder da economia informal". Porquê?
O livro "Inovar para prosperar", é uma antologia de artigos publicados no Jornal de Angola, de 2004 a 2009. "O poder da economia informal" diz respeito a um trabalho de investigação realizado ao longo de cinco anos. Passaram- se cerca de 10 anos e penso ser um período razoável para se escrever um novo livro.

É docente universitária, analista económica e directora do Gabinete de Auditoria Interna do BDA, como gere essas tarefas?
Faço a gestão destas tarefas com muito foco, rigor, dedicação, disciplina e responsabilidade. Neste processo, conto sempre com a gestão do tempo.

Que impacto tem a crise económica na sua vida?
Os ciclos recessivos fazem parte da dinâmica económica dos países. O impacto da crise na minha vida obrigou-me à alteração de comportamentos relativamente ao consumo de bens e serviços. É necessário poupar e combater o desperdício e, sobretudo, eliminar o ímpeto consumista. A crise ensina-nos a fazer o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis e a valorizar o trabalho e a solidariedade.

Como acha que o País deve sair dessa crise?
Dado o actual nível de endividamento, penso que devemos tomar algumas medidas que passam por racionalizar a despesa pública, equilibrar as contas públicas, diversificar a economia, aumentando os níveis de qualificação dos trabalhadores, melhorar a qualidade das políticas públicas.

Informalidade ajuda na redução da pobreza extrema

Nascida em Abril de 1975, em Luanda, Juliana Evangelista Ferraz é docente universitária e directora do Gabinete de Auditoria Interna do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA). Para a autora, num contexto de problemas estruturais como o actual, a economia cresce a um ritmo moderado e o nível de emprego baixo não permite reduzir significativamente o desemprego, logo as pessoas recorrem ao trabalho informal para sobreviver.

"Este sector emprega um elevado número de pessoas e contribui para a redução da pobreza extrema". Doutorada em economia, a especialista destaca que existe claramente uma quota significativa do sector informal que pode contribuir para o processo de diversificação da economia. Desde que estas actividades estejam formalizadas, e correctamente controladas, podem contribuir para o aumento do sector formal. Juliana revela que escrever o terceiro livro faz parte dos seus objectivos no médio prazo.