"A existência do petróleo cegou-nos um pouco e tirou-nos do que era essencial"
Arnaldo Calado, presidente da Câmara de Comércio Angola-China acredita no perdão de parte da dívida angolana aos chineses e defende mais abertura do Governo para minimizar os danos da Covid-19 na economia, assim como uma nova postura do empresariado para que o aumento do desemprego não seja acentuado.
O Governo está a implementar um conjunto de medidas para ajudar as empresas a minimizarem os efeitos negativos da Covid-19. Satisfazem?
São as medidas que se impõem neste momento. Enquanto pessoa ligada aos negócios gostaria que fossem muito mais que essas. Mas também tenho que compreender como cidadão e patriota que a situação do nosso País hoje não permite muito mais. E evidentemente que dependerá também do tempo que a pandemia durar, mas consideramos as medidas adequadas à situação que estamos a viver.
Que medidas faltarão?
Costumo dizer cada altura da pessoa com o seu chuveiro. Ainda não sabemos quando tempo vai durar esta catástrofe. O mundo nunca mais será o mesmo, por isso é preciso alguma cautela na aplicação de medidas. E nesta altura exigir mais a um Governo que também tem outros problemas para resolver, como por exemplo, a baixa do preços do petróleo no mercado internacional e outras situações, seria irracional de minha parte exigir mais. Sinceramente acho que estas medidas são adequadas para o momento.
Olhando para o ambiente negócio e outras situações do País como é que a economia se aguenta?
A economia africana e a angolana em particular estão a atravessar um momento muito difícil. Governar nesta altura é um desafio muito grande. A nossa economia está a exigir uma capacidade extra-humana e uma sabedoria salomónica. Para além da pandemia, as commodities estão com os preços em baixos, temos o problema da circulação, as nossas estradas estão péssimas e não permitem ir a busca dos produtos no campo, sem esquecer que até temos problemas com as chuvas. O desemprego que está a atingir picos enormes e isso não é um bom indicador para qualquer economia.
Mas alguns aspectos de que fala não são de hoje...
As decisões económicas a serem tomadas exigem muita calma, sobretudo para se evitarem os chamados erros de decisão. A meu ver a saída ainda continua a ser o recurso aos nossos amigos e parceiros. E aqui a China se apresenta como uma das saídas mais importantes independentemente de existirem outros países que nos possam ajudar. Vamos continuar a nos apoiar nos parceiros e nos amigos. Ao mesmo tempo temos que incentivar a produção agrícola nacional para que ocupe de facto um lugar preponderante neste País. Vamos esquecer tudo resto e nos dedicar a produção agrícola seriamente, mas não é só produzir, esta produção precisará de chegar ao consumidor. Este é um grande desafio.
O sector privado foi afectado com o confinamento e apesar da reabertura das actividades queixa-se das perdas. Como é que se recupera?
Ao sector privado resta-lhe apenas a imaginação e ao Governo resta-lhe facilitar. Este binómio imaginação e facilitação é a única saída e solução para a nossa economia. Ao mesmo tempo, os empresários têm que colocar todo o seu saber para repor a produção e o Governo terá que encontrar caminhos para facilitar. Mas facilitar ao máximo, flexibilizar até ao limite. Temos que acabar com muitos papéis que são exigidos, com a burocracia, responder às solicitações atempadamente. Devemos também olhar para a Covid-19 como uma oportunidade para impulsionar a economia angolana. (...)
(Leia a entrevista integral na edição 576 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Maio de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)