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Angola

É necessário um olhar mais sério para a cultura se quisermos que seja um negócio"

Vicente Carvalho, produtor, consultor e manager na Grande Entrevista

A cultura e organização de eventos é um sector que "alimenta" milhares de pessoas, mas tem de se organizar, profissionalizar e dar-se ao respeito para ser levado a sério, diz Vicente Carvalho. O produtor defende empréstimos para salvar empresas "cumpridoras" que já estão com a "corda no pescoço".

A Puromix é das maiores empresas de audiovisuais e multimédia de África. Está no mercado angolano desde 2004 e por ela passaram alguns dos mais importantes eventos realizados no país, como o CAN, em 2010. Se pudesse caracterizar o período que vivemos numa única palavra qual seria?

Uma só é difícil, preciso de pelo menos duas. Desespero e esperança. Desespero, porque na área da cultura - acima de tudo falo da música, que é aquela com que trabalhamos mais - não há condições para fazer espectáculos. Podemos fazer, mas não temos público, que é quem suporta a bilheteira, não temos sponsors [patrocínios], porque as empresas estão descapitalizadas e isso deixa-nos numa situação angustiante. Enquanto a pandemia durar não temos grande saída, não temos apoios, nem governamentais. Percebemos que o governo tem outras prioridades, mas nós também pagamos impostos.

O governo anunciou em Abril um conjunto de medidas de alívio para as empresas. Essas medidas não servem às empresas do sector?

Quando uma empresa não consegue facturar... Nós temos 32 empregados. Desde Março, quando começou a pandemia, nós pagamos os ordenados, temos tudo em dia. Para nós, o não facturar é o desespero, porque continuamos a pagar impostos, de forma reduzida, porque eles são o reflexo directo da facturação. Portanto, não nos dá grande apoio, nem é grande benefício, não pagar impostos ou uma moratória.

O que seria razoável?

Isso parte um bocado da organização das empresas, porque não estamos todos em igualdade de circunstância. Seria importante a criação de empréstimos com juros bonificados para que as empresas não se empenhassem de todo, e conseguissem ultrapassar esta fase.

O que quer dizer com "não estamos todos em igualdade de circunstância"?

Meia dúzia de empresas pagam muito de impostos e depois há outras que não pagam, são empresas muito pequenas. O Estado devia dar apoio a quem paga os seus impostos. A única forma, neste momento, seria empréstimos com juros bonificados para que as empresas consigam aguentar e, daqui a quatro, cinco meses, se tudo correr bem, possamos começar a facturar como facturávamos. Nós estamos completamente descapitalizados.

Refere-se a concorrência desleal dentro do sector, entre empresas cumpridoras e não?

Terá de haver regulamentação, de forma rápida, que obrigue as empresas a ter alvarás...

Mas a lei já obriga.

Pois, mas é que as festas de quintal e todas essas coisas não estão regulamentadas, nada disso é oficial. Para fazer um espectáculo, à semelhança do que acontece noutros países, não se obtém a licença se não se pagar os direitos de autor e se não pagar a própria licença. Isso aqui não existe. Para já, direitos de autor é uma miragem. Efectivamente não há igualdade, não há, e isso faz toda a diferença.

(Leia o artigo integral na edição 601 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Novembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)