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Opinião

Silêncio, apenas silêncio

Editorial

Contrariamente ao silêncio do filme protagonizado por Jodie Foster e Anthony Hopkins, o silêncio dos ministros e do Presidente face às denúncias feitas por órgãos de informação estrangeiros resulta, para a maioria dos cidadãos, tal como explicava o escritor Jacques dos Santos esta semana numa entrevista à LAC, como assunção da culpa.

E não há outra maneira de olhar para esta questão, o silêncio não ajuda, não esclarece e nunca foi uma estratégia capaz de gerar confiança. Também levanta as bandeiras da contestação, cria dúvidas nos parceiros, amolece a fé dos seguidores, desilude os indecisos e incendeia as brigadas da contestação. Mas, pior, o silêncio estende a nuvem sobre o colectivo e, muito rapidamente, para além dos citados, todos os que exercem funções similares passam a ser vistos com os mesmos olhos. A solidariedade institucional nestes casos resulta sempre na alteração, do "ele cometeu um erro" para o "são todos iguais". E, para alguns, não será certamente justo, o que também deve preocupar o líder.

No nosso País, essa postura adquire uma desconfiança maior pois a prática de anos passados ainda não saiu do imaginário da maioria, das denúncias que foram feitas nas últimas duas décadas pela comunicação social privada, que bateram no muro do silêncio e que agora se prova que afinal eram legítimas, mas mais, eram verdadeiras. Ou seja, a táctica do silêncio faz lembrar os tempos que os novos tempos agora assumem combater. Mudar de passeio não é mudar de estrada, é apenas ir para outro lado, mas mantendo a mesma direcção. Para assumir um novo caminho é necessário mudar de estrada, por muito que isso possa custar ou que faça a maioria sair da sua zona de conforto onde se habituaram a viver. Apenas olhando de fora, houve tempo suficiente, três anos, para que os bem-intencionados se tivessem regenerado e mudado de estrada. Quem mudou apenas de passeio, apesar da presunção da inocência, não pode pedir compreensão e invocar agora dó e piedade.

Contrariamente ao filme protagonizado por Jodie Foster e Anthony Hopkins, em que com o decorrer da história se gera uma relação de amor e cumplicidade entre as personagens com a revelação de um carácter forte dos protagonistas, este silêncio gera exactamente o contrário - o afastamento das partes (leia-se governo e cidadãos), e uma enorme desilusão face ao carácter dos envolvidos. Nos primeiros dias, o sentimento ainda é "então não reagem perante estes ataques?", mas mesmo este acaba por perder-se em perguntas que não têm respostas. E como diziam os mais velhos, "quem cala, consente". Uma pena muito grande a forma como tem sido gerido este silêncio, que implica custos não apenas para os visados, mas também para o País.