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Opinião

Liderança - José Mourinho... modelo esgotado?

Análise

É um facto que José Mourinho, actual treinador do Chelsea FC, é um profissional fantástico. Com um palmarés invejável em campeonatos de países diferentes, é inegável que estamos perante um dos melhores treinadores do mundo da história do futebol.

Mourinho trouxe métodos inovadores e, acima de tudo, um estilo de liderança em muito inspirado na liderança pela complexidade, que marcou a diferença e a admiração dos jogadores e público (confesso que sou um admirador).

No entanto, o percurso de José Mourinho tem tido um denominador comum muito interessante. É um profissional que chega ao clube, é por norma campeão no primeiro ou segundo ano, mas no terceiro acontece uma recaída que coloca em causa o seu posto de trabalho.

Porque será? Tive a oportunidade de usar as redes sociais para tentar averiguar as opiniões de pessoas atentas, líderes nas suas organizações e de apreciadores de futebol. Alguns são da opinião de que José Mourinho exige muito dos seus jogadores, ultrapassando em muitas vezes os seus limites, provocando, por um lado, vitórias incontestadas, mas, por outro, um enorme desgaste nos atletas. Outra opinião é que ele tem como apanágio a imagem de campeão, e isso exige vitórias constantes.

Ou seja, quando perde vários jogos num curto espaço de tempo, essa imagem perde força e, por conseguinte, a confiança depositada em si pelos jogadores. Por outro lado, com essa imagem, num período em que precisa de apoio, poderá transmitir fragilidade, além de que existe um isolamento natural de quem se coloca nesse estatuto. Assim, ele cria um círculo vicioso em que a confiança depende da imagem de controlo, e a imagem de controlo depende de parecer imune ao contexto.

A única forma de sair do círculo é mudar de equipa ou contexto. Curiosamente, a 'Liderança pela Complexidade' que José Mourinho adopta tem como um dos principais vectores o contexto... mas será que ele está a considerá-lo da forma mais correcta? Continuando na senda das excelentes opiniões, outra é que, sendo uma liderança de alta intensidade, provoca um elevado desgaste emocional/psicológico.

Outro treinador de grande destaque, Fabio Capello, escreveu uma vez que Mourinho queima os jogadores a cada dois anos. Uma última opinião é que Mourinho está a mudar a sua filosofia de jogo e esquema táctico, e os jogadores estão a ter dificuldades em assimilar essa nova estratégia.

Esta opinião vai mais longe e afirma que Mourinho, ao aperceber-se de como o mundo do futebol está diferente, com os fundos de investimento, crise do petróleo, e a vontade que ele tem de inovar, está de facto a colocar em segundo plano os resultados e a apostar fortemente em preparar um novo modelo para a próxima década, apostando em jogadores de segundo plano. Confesso que, na minha opinião, esta última hipótese vai mais ao encontro do que penso.

Mourinho, quando começou a sua carreira como treinador principal, esteve vários anos antes na sombra a preparar o seu modelo. Agora, com a exposição que tem, torna-se impossível haver uma preparação sem colocar em risco os resultados desportivos.

Todavia, parece uma boa aposta a continuidade no actual clube, uma vez que todos já verificámos que, quando ele tem o modelo pronto, as suas equipas são, de facto, muito difíceis de derrotar, e os títulos vêm por natureza.

É um facto que ele, com o Real Madrid, pôs fim ao ciclo vitorioso de um Barcelona 'invencível'. Fazendo o paralelo para as empresas, poderemos ter líderes para dois/três anos com vista à obtenção de resultados imediatos? Se, no caso de um treinador, ele facilmente muda de clubes de grande dimensão de dois em dois anos sem a sua imagem estar afectada, será justo chamar de 'saltitão' a um profissional que goste de desafios exigentes e imediatos e que, uma vez estes cumpridos, mude para outros?

O modelo de liderança actual de José Mourinho assente na 'Complexidade' tem como outro dos principais vectores a máxima que "o todo é maior que a soma das partes", e nesta máxima, encontra-se a relação do seu todo com o contexto envolvente.

Nas empresas, esse modelo é também um modelo potencialmente vencedor se bem aplicado. O desporto e as empresas são muito mais próximas do que muitas vezes pensamos, e ambos podem aprender um com o outro. Porque não Mourinho contratar alguém das empresas para o ajudar a dar a volta ao momento?

*Regional HR Director Western Africa, DHL Global Forwarding/Harvard Business School