A criação de valor num mundo em crescimento contínuo - a economia circular
A economia global está numa encruzilhada. Os modelos de crescimento linear pouco mais terão a dar às organizações.
Os recursos não renováveis têm cada vez mais dificuldade em satisfazer a procura, a população mundial não pára de crescer, os recursos renováveis apresentam uma baixa capacidade de regeneração, e os limites planetários são os factores que contribuem para condicionar esses modelos de crescimento.
Análises sugerem que um novo modelo está a surgir no seio das organizações, como forma de assegurar o crescimento continuado - o modelo circular. As organizações sustentam, cada vez mais, a sua diferenciação na crescente escassez de recursos, e assim ganham competitividade através da chamada vantagem circular.
Os executivos e as organizações que dirigem são confrontados no seu dia-a-dia com a escassez dos recursos, facto condicionador do seu crescimento. Num mundo de negócios concorrencial, esse condicionamento torna mais vulneráveis os valores tangíveis e intangíveis das empresas. O modelo da economia circular apresenta-se como a solução.
Neste modelo, a tecnologia e os modelos de negócio assentes na longevidade, renovação, reparação, actualização, remodelação, partilha e desmaterialização determinam e definem a forma de crescimento.
Com a sua adopção, as organizações melhoram substancialmente a gestão eficiente dos recursos disponíveis e ganham competitividade. Paralelamente, o cliente reconhece também valor às empresas e organizações que assumem a renovação como parte integrante da sua estratégia empresarial, das tecnologias e dos sistemas operativos.
Dentro desta economia circular, existem modelos de negócio geradores de uma produtividade inovadora das organizações:
Um modelo assente na utilização de recursos totalmente renováveis, recicláveis e biodegradáveis, sustentando a produção circular e os sistemas de consumo;
Um modelo baseado na recuperação de recursos que permita às empresas eliminar o desperdício de materiais e maximizar o valor económico através do retorno dos produtos;
Um modelo assente na criação de produtos de maior longevidade, possibilitando às organizações aumentar o ciclo de vida de produtos e bens. A reparação, actualização, remanufacturação e remarketing permitem manter e melhorar o seu valor, que seria destruído com o desperdício de materiais. O cliente sai desta equação claramente beneficiado, uma vez que passa a dispor de um produto duradouro ao qual atribui maior valor;
Um modelo sustentado em plataformas de partilha que fomentem e incentivem a interacção entre utilizadores de produtos, substituindo as organizações;
Um quinto e último modelo que assume que o produto é também um serviço. Em si, o produto constitui uma alternativa ao tradicional modelo de buy and own. Em alternativa, os produtos são utilizados por um ou vários clientes via aluguer ou pay-for-use.
Com este modelo, o paradigma muda-se do volume para o desempenho, uma vez que a durabilidade e actualização do produto se tornam o foco do processo produtivo. São grandes os desafios da adopção da economia circular. Mas as oportunidades estão, claramente, em vantagem.
Através dele, as empresas que estão na vanguarda do processo ganham vantagem aos concorrentes através da inovação na melhor utilização dos recursos, ao mesmo tempo que asseguram maior valor para o cliente.
A estratégia da organização ganha impulso positivo. Esta é a melhor altura para avançar. A grande expectativa de produtos sustentáveis por parte dos consumidores e a escassez de recursos assim o determinam. As empresas que adoptem uma estratégia proactiva criam valor acrescentado e usufruem dos benefícios da economia circular.
Essa estratégia assenta na motivação e no abandono do modelo linear de negócio. Paralelamente, assume modelos de negócio, tecnologias e capacidades inovadoras críticas para alcançar o sucesso.
*Directora sénior responsável pela Accenture Strategy em Angola