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Opinião

Acabem com os conflitos de interesse na banca se querem ser respeitados

Editorial 392

A banca angolana é dominada pelo Estado e por uma elite composta por governantes no activo, ex-governantes, generais, políticos e empresários ligados ao MPLA e respectivos familiares

O Governo e o Banco Nacional de Angola (BNA) lançaram uma operação de charme para limpar a imagem de Angola no seio da comunidade financeira internacional.
Em visitas organizadas propositadamente ou à margem de encontros internacionais as autoridades de Luanda desdobram-se em contactos na África do Sul, Portugal e Estados Unidos da América para explicar as acções que o BNA e a banca comercial angola- na estão a empreender, para adequar o sistema financeiro angola- no às normas prudenciais e às boas práticas internacionais.
Costuma a dizer-se que admitir um problema é o primeiro passo para resolver esse problema. Por isso, saudamos a mudança de atitude do Governo de Angola.
Até há bem pouco tempo, o Executivo achava que era a comunidade internacional que se tinha de adaptar às regras angola- nas. Finalmente percebeu que somos nós que temos de nos conformar com as normas internacionais sob pena de sermos pura e simplesmente excluídos do sistema financeiro mundial.
E fê-lo até com humildade, no caso de Portugal. Depois de ter dito cobras e lagartos dos bancos lusitanos a operar em Angola, Valter Filipe, acabou por ir bater à porta do Banco de Portugal pedir lições sobre como lidar com a supervisão bancária europeia.
Mas reconhecer o problema, ser humilde e apresentar planos não chega. É preciso mudar de paradigma.
Os problemas da banca angolana começam na governação das instituições, nos conflitos de interesse entre accionistas, gestores e clientes.
Como revela a lista de accionistas da banca que o Expansão publica anualmente, a banca angolana é dominada pelo Estado, directamente ou através da Sonangol, e por uma elite composta por governantes no activo, ex governantes, generais, políticos e empresários ligados ao MPLA, partido no poder desde a independência, e respectivos familiares.
Salvo honrosas excepções, quem manda na banca são gestores nomeados mais pela fidelidade pessoal e partidária ou laços familiares do que pela sua competência profissional.
Entre os principais clientes dos bancos proliferam os mesmos governantes no activo, ex-governantes, generais, políticos e empresários ligados ao MPLA, partido no poder desde a independência, e respectivos familiares.
Sem quebrar esta teia de interesses obscuros e conflituantes na banca, e colocar à frente das instituições financeiras angolanas gestores competentes, dificilmente Angola será levada a sério pela comunidade financeira internacional.