Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

No curto prazo, só nos resta (mesmo) orar...

Editorial 393

Seria bom que os vendedores de ilusões deste País caíssem na real e ganhassem consciência de que, ainda que as coisas corram bem, reduzir a petrodependência vai levar muito tempo

Tenho defendido em vários fóruns que, no curto prazo, Angola não tem instrumentos de política económica para reverter a difícil situação em que se encontra, pelo que a única coisa que nos resta é rezar para que o preço do petróleo suba.

Uma opinião que não é partilhada pelo Governo. De acordo com as linhas mestras da estratégia da saída da crise derivada da queda do preço do petróleo no mercado internacional, aprovada em Fevereiro deste ano, "o aumento das exportações não petrolíferas constitui uma via potencial para, a curto prazo, elevar as receitas em divisas e diminuir, por conseguinte, a grande dependência do País dos recursos petrolíferos.

Como angolano adoraria não ter razão. Infelizmente, os dados do comércio externo do INE do primeiro trimestre de 2016 sugerem o contrário, isto é, que, muito provavelmente, tenho razão.

De acordo com os meus cálculos, no primeiro trimestre de 2016, Angola vendeu ao estrangeiro mercadorias no valor de 5,5 mil milhões USD contra 8,4 mil milhões USD no mesmo período de 2015, uma quebra de quase 34%.

Esta quebra é totalmente explicada pelo petróleo cujas exportações recuaram mais de 36% de 8 mil milhões USD nos primeiros três meses de 2015 para 5 mil milhões entre Janeiro e Março deste ano.

Já as exportações de produtos não petrolíferos deram um pulo de pouco mais de 20% ao passarem de 389 milhões USD no primeiro trimestre do ano passado para 468 milhões USD no mesmo período deste ano.

Feitas as contas, o peso dos produtos não petrolíferos nas exportações angolanas quase duplicou no período em análise ao passar de 4,6% do total para 8,4%.

Em termos percentuais, a evolução das exportações não petrolíferas é muito interessante. Só que a base ainda é muito baixa e, em valor absoluto, os 468 milhões USD arrecadados mal cabem na cova de um dente.

Só para se ter uma ideia, as vendas médias mensais de divisas do Banco Nacional de Angola aos bancos comerciais nos primeiros nove meses ultrapassaram os 800 milhões USD. Ou seja, as divisas angariadas com as exportações não petrolíferas em três meses equivalem a pouco mais de metade das vendas mensais de divisas do BNA.

Bem sei que um trimestre é curto para tirar conclusões definitivas, mas seria bom que os vendedores de ilusões deste País caíssem na real e ganhassem consciência que, no curto prazo, não será possível diminuir a grande dependência do País em relação ao petróleo. Termino com outra frase que não me canso de repetir: ainda que as coisas corram bem, reduzir a petrodependência vai levar muito tempo.