'Rife' o modelo de previsão de crescimento, Sr. Ministro
Opinião
O discurso do Governo segundo o qual a economia angolana estava em desaceleração, redução do ritmo de crescimento, e não em estagnação, crescimento zero, e muito menos em recessão, ou crescimento negativo, foi esta semana desmentido em toda a linha pelo instituto Nacional de Estatística (INE).
Bem sei que fazer previsões económicas não é tarefa fácil, mas o que o Governo tem feito nos últimos anos é enganar os agentes económicos. Veja-se o caso dos últimos dois anos. Em 2015, o Governo começou por prever um crescimento de 10,7% e foi revendo em baixa as projecções até parar nos 3%. Mas na realidade a economia em 2015 só cresceu 0,9% segundo o INE, cujos números são os oficiais. Quanto a 2016, as primeiras projecções apontavam para 3,3% e as últimas não passam dos 0,1%.
Eu digo Governo mas a responsabilidade das projecções do Governo é do ministério do Planeamento. As previsões são feitas com base em modelos econométricos. Pelo que o meu conselho ao ministro do Planeamento é que "rife" o modelo de previsão que está a utilizar e contrate alguém que saiba fazer modelos à séria. Basta de humilhações. Angola andou-se a gabar de ser o país que mais crescia no mundo com dois anos com taxas superiores a 20%, em 2006 e 2007, mas, na realidade, o melhor que fizemos foi 15%, em 2005 e 14%, em 2007.
Aliás, já se começou a trabalhar nesse sentido ou pelo menos já se começou a pagar com esse objectivo. De acordo com o relatório e contas de 2014 do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), este celebrou com a QG Investments Ltd um contrato de 11,6 milhões USD para a elaboração de um modelo econométrico.
Segundo o FSDEA, o objectivo do modelo é ajudar a compreender de "forma eficaz" os processos que afectam a economia e gerar dados fiáveis, que possam servir de base para os programas do Estado e as suas decisões sobre a realização de investimentos. Segundo, o FSDEA, este modelo está a ser desenvolvido pelo ministério do Planeamento e conta com o engajamento do Banco Nacional de Angola, ambos membros do Conselho Consultivo do FSDEA.
Aguardemos para ver. Mas não escondo as minhas dúvidas. Sobre a necessidade de envolver o FSDEA e sobre a competência da entidade contratada. Suponho que as primeiras letras da QG Investments Ltd sejam as iniciais de Quantum Global. Desconheço quais as competências da QG em matéria de modelos econométricos. Mas a empresa detém praticamente o monopólio da prestação de serviços ao FSDEA. Talvez seja por aí
