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Angola

Fitch alerta que bancos privados não estão a ser reestruturados

Banca

Agência de notação financeira considera que existe uma "crescente discrepância" entre os bancos públicos, que estão a ser alvo de intervenção, e as instituições bancárias privadas que operam no mercado nacional. Segundo a Fitch, "ambiente operacional fraco" pesa no desempenho do sector.

A agência de notação financeira Fitch considera que existe em Angola um "ambiente operacional fraco" que tem impacto no desempenho dos bancos e alerta que, contrariamente aos bancos públicos, que estão a ser alvo de operações de reestruturação, não há sinais de intervenções nos bancos privados.

Numa avaliação da Fitch, a que o Expansão teve acesso, a agência de notação refere que a recapitalização do Banco de Poupança e Crédito (BPC) pelo Governo destaca a "crescente discrepância" entre os bancos públicos e privados do país, afectados pelo arrefecimento da actividade do sector.

"Os bancos estatais estão em fase de reestruturação e enfrentam maiores desafios sobre o capital, a liquidez em moeda estrangeira e a qualidade dos activos. Um ambiente operacional fraco pesa no desempenho de todos os bancos angolanos", afectados ainda pela "lenta procura do crédito", refere a agência.

A Fitch destaca o caso do BPC, considerando que os empréstimos com imparidade no BPC "podem ser mais do que o dobro da média do sector, atingindo 30% do total de empréstimos".

O maior banco estatal apresenta um volume de crédito malparado, segundo números oficias recentes, ao equivalente a cerca de 1,2 mil milhões USD. No entanto, a recapitalização do BPC não vai aumentar a escassez de liquidez em moeda estrangeira, porque qualquer injecção de capital será feita em moeda local, refere a análise.

O BPC conta com mais de 5.200 trabalhadores e 400 agências para um total de clientes superior a 2,2 milhões, mas viu os resultados líquidos descerem quase 7% de 2014 para 2015, para 8.289 milhões Kz (ver página 2).

A Fitch refere que estão ainda a ser reestruturados mais dois bancos estatais - o Banco de Desenvolvimento de Angola, o Banco de Comércio e Indústria, e que não tem conhecimento de quaisquer "reestruturações entre os bancos do sector privado". Os bancos deverão reportar rácios de adequação de capital em linha as normas prudenciais recomendadas pelos Acordos de Basileia a partir de finais de Junho de 2017 e deverão estar totalmente em conformidade com estas regras até ao final do ano, refere. A análise faz referência ao BNA, referindo que em testes de "stress" ao sector, conduzidos em 2014 e 2015, "não foram evidenciadas falhas" de adequação às normas prudenciais.

"Acreditamos que este será provavelmente o caso dos principais bancos do sector privado, que esperamos que deverão cumprir com os requisitos mínimos do BNA. No entanto, o BPC vai exigir capital adicional para satisfazer requisitos mínimos das normas de Basileia II", referem os analistas da Fitch.

Os bancos a operar em território nacional debatem-se para ter acesso a divisas "para satisfazer as necessidades de financiamento dos seus clientes, num país altamente dependente de importações". "A qualidade dos empréstimos está a enfraquecer, com crédito malparado a atingir 15% do total de empréstimos no final de Outubro de 2016, face a uma média de 11% no período 2013-2015. Os empréstimos com imparidade sem reservas representavam 20% do capital regulamentar do sector. No entanto, acreditamos que os problemas de qualidade dos activos estão subavaliados porque os riscos do sector pú-blico não são classificados como negativos em Angola e os empréstimos reestruturados, que são muitos, não são classificados nos valores de imparidade regulamentar", afirma a Fitch.

Na análise ao sector bancário do País, a agência de notação recorda ainda a Recredit, sociedade anónima de capitais públicos, considerada como "banco mau", criada no ano passado para assumir activos financeiros "maus" do BPC. A Fitch refere que, em Setembro de 2016, foi aprovada uma emissão de 1,4 mil milhões USD em dívida pú- blica para financiar a aquisição pela Recredit de empréstimos "tóxicos" do BPC, mas no entanto essas verbas ainda não terão chegado.

"Os empréstimos ainda não foram transferidos e a divulgação pública sobre Recredit é limitada", refere a análise da agência.

CRÉDITO MALPARADO AUMENTOU 8,8% EM 2015

O volume de crédito vencido no sector bancário nacional duplicou desde 2012, correspondendo a um crescimento anual de 26%, refere um estudo da consultora internacional KPMG, divulgado no final de 2016. Em 2015, o malparado aumentou 8,8% face ao ano anterior, refere um estudo da auditora que partiu de um universo de 27 bancos a operar no mercado de Angola, uma fatia que representa a quase totalidade do sector financeiro (93%) do País.

Já de acordo com o relatório Banca em Análise da consultora Deloitte, apresentado em Novembro de 2016, o crédito vencido na banca nacional atingiu em 2015 os 355,6 mil milhões Kz. O valor do crédito vencido, 13% do crédito líquido concedido, que em 2015 cresceu 6%, face ao ano anterior, para 2,736 biliões Kz, consta da 11.ª edição da publicação Banca em Análise, da Deloitte.