Shell investigada em novo caso de corrupção na Nigéria
A petrolífera Shell está a ser investigada por um pagamento de 1,3 mil milhões de dólares num alegado suborno para a aquisição dos direitos de exploração de um campo de petróleo no país, que envolve políticos e o governo da Nigéria. Em causa estão alegadas trocas de favores que poderão ter favorecido vários políticos, entre eles, o ex-presidente nigeriano, Goodluck Jonathan e o ex-ministro do Petróleo, Dan Etete.
A investigação, levada a cabo pelas autoridades italianas e nigerianas, dá conta que altos executivos da Shell sabiam que alguns dos pagamentos efectuados ao Governo pelos direitos do campo OPL 245, em 2011, iriam para a Malabu Oil and Gas, uma empresa do ex-ministro do Petróleo da Nigéria, já condenado pelo governo francês, em 2007, por lavagem de dinheiro.
A italiana Eni, também envolvida nos negócios no bloco, afirmou não ter tido qualquer conduta ilícita. Já a Shell, que no início da investigação alegou que todos os pagamentos referentes ao campo feitos em 2011 tinham sido executados em conformidade com o governo nigeriano, agora admite que sabia que Etete estaria "envolvido" com a Malabu, mas que não tinha conseguido confirmar, à altura, se era o ex-ministro do Petróleo que controlava a empresa.
Em comunicado enviado à agência Reuters, o porta-voz da empresa, Andy Norman, disse agora que o grupo sabia, sim, que o governo nigeriano "iria compensar Malabu para liquidar a sua reivindicação no bloco".
"Com o tempo, ficou claro para nós que Etete estava envolvido em Malabu e que a única maneira de resolver o impasse através de um acordo era envolvermo-nos com Etete e Malabu, gostássemos ou não", disse Norman à Reuters.
A quantia é superior a todo o orçamento da Nigéria disponível para o sector da Saúde, mas o montante não foi utilizado para o desenvolvimento de qualquer serviço público. Do total dos 1,3 mil milhões USD, mil milhões terá sido repassado à Malabu.
A BBC teve acesso a e-mails de representantes da Shell a negociar directamente com o empresário, um ano antes do negócio se efectuar. Em Março de 2010, um ex-funcionário da Shell escreveu num e-mail que Etete beneficiaria do acordo, mensagem enviada com conhecimento do então chefe executivo da Shell, Peter Voser.
A "micha" de Jonathan
Os investigadores italianos suspeitam também que parte do dinheiro terá sido repassada ao então presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan. Num outro e-mail, o mesmo funcionário da Shell escreveu que a negociação era também "claramente uma tentativa de repassar quantias significativas para GLJ (Goodluck Jonathan), como requisito da transacção".
Envolvida no escândalo, está ainda uma rede de casas de câmbio nigeriana, que alegadamente terá branqueado 466 milhões USD para facilitar os pagamentos a Jonathan e a outros políticos. Todos, até agora, negam as acusações.
Historial de subornos Shell
Em 2010, a Shell foi multada em 30 milhões USD por pagamentos à Companhia Nigeriana de Gás Natural Liquefeito e a Halliburton, no valor de 180 milhões USD. Ficou provado que estes valores acabaram por se transformar em subornos a funcionários nigerianos, num esquema de branqueamento de capitais.
A KBR, associada na altura à Halliburton, chegou a admitir o pagamento do montante, em 2009, aos funcionários.