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Aumenta contestação a Zuma e oposição insiste na sua saída

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A crise política iniciada com a saída do respeitado ex-ministro das Finanças continua. Os partidos da oposição que tentam obter a renúncia de Jacob Zuma deparam-se com um enigma: se derrubarem um presidente impopular, poderão estar a arruinar as suas melhores chances de vencer as próximas eleições em 2019.

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, foi impedido de proferir o discurso na cerimónia das celebrações do Dia Internacional do Trabalhador, a 1 de Maio, por um grupo de elementos da Confederação dos Sindicatos da África do Sul (COSATU), naquele que é o caso mais recente de contestação à sua presidência.

Centenas de elementos desta estrutura sindical parceira do ANC, partido que está no poder, receberam o presidente aos gritos:"Zuma deve sair". Outros sindicalistas tentaram silenciá-los, sem sucesso, com palavras de ordem em favor do Presidente, que assistiu aos protestos dentro de uma tenda e acabou por não proferir o discurso que estava inicialmente previsto. Zuma acabou por deixar as comemorações sob protecção policial.

Este foi mais um caso de contestação ao Presidente da África do Sul, devido à sua implicação em escândalos que provocaram, não só críticas por parte da oposição, mas também de vários quadrantes da sociedade sul- -africana. Protestos esses que se acentuaram com a crise política iniciada no final de Março, provocada pelo "despedimento" do respeitado ministro das Finanças, Pravin Gordhan. Dessa crise política resultou também uma descida no rating da dívida pública da África do Sul, com a Standard & Poor"s e a Fitch a colocarem a dívida como não investimento, ou "lixo". Gordhan impunha-se contra os planos "despesistas" do Presidente, uma das causas que terá levado à sua demissão.

Entretanto, mais de 100 mil pessoas pediram em Abril a renúncia de Jacob Zuma, ao mesmo tempo que os partidos da oposição estão a tentar a sua destituição através da via parlamentar. O Tribunal Constitucional está a analisar se a votação dos deputados pode ser feita por voto secreto o que, segundo os analistas, poderá levar à destituição do Presidente, uma vez que o descontentamento também é crescente dentro do ANC, partido com 62% dos deputados. Ou seja, se o voto for secreto, a oposição interna do partido também deverá votar favoravelmente a mo- ção de censura a Zuma interposta pelos partidos da oposição.

Sair ou ficar é um enigma Para o professor de ciência política da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, Daryl Glaser, os partidos da oposição que tentam obter a renúncia de Jacob Zuma deparam-se com um enigma: se derrubarem um presidente impopular, perderão as suas melhores chances de vencer as próximas eleições. "Eu suspeito que os líderes da oposição estão divididos sobre este assunto. Pedem genuinamente para Zuma sair e podem esperar que, com a sua saída, se gere uma espécie de caos e de divisão no partido no poder, da qual poderiam beneficiar. Também é inegável que Zuma é uma espécie de activo eleitoral para os partidos da oposição", afirmou o docente, citado pela Reuters.

De contestação em contestação, os partidos da oposição, mas também o partido comunista e a COSATU, ambos parceiros do governo, juntaram-se à igreja e a grupos de direitos civis para pressionar a saída de Zuma.

Vários líderes do ANC admitem que o partido corre o risco de perder poder nas eleições de 2019, caso Zuma seja autorizado a completar o seu segundo mandato de cinco anos. Entretanto, o Presidente já se afirmou indisponível para interromper o mandato.

No meio da crise política, há uma crise económica a florescer e até o banco central da África do Sul anunciou recear novas descidas no rating da dívida do país.