Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Angola

Angola pede apoio à China na transferência dos Direitos Especiais de Saque do FMI

Em encontro à margem do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC)

Os países mais ricos prometeram ceder aos países mais pobres o equivalente a 100 mil milhões de dólares em Direitos Especiais de Saque do FMI, uma promessa relativamente fácil de fazer mas extremamente complexa para se cumprir. Angola pede apoio à China para a parte que lhe cabe

Na Cimeira França-África realizada em Paris em Maio de 2020, em plena pandemia, e em que participaram duas centenas de líderes africanos, entre eles o Presidente João Lourenço, inúmeros chefes de Estado europeus, elementos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e representantes da União Africana (UA), o Presidente do país anfitrião, Emmanuel Macron, fez saber que as nações mais ricas ponderavam abrir mão do equivalente a 100 mil milhões em Direitos Especiais de Saque (Special Drawing Rights, SDR) do FMI a favor dos países mais pobres, muitos deles no continente africano, que no seu todo têm direito a 33 mil milhões em SDRs.

Foi relativamente fácil ao Presidente Macron fazer a promessa, o mais difícil tem sido encontrar o apoio de todo os países para a iniciativa e, ainda mais, encontrar uma forma de fazer chegar o dinheiro a quem dele mais precisa, uma vez que tem de ser em forma de empréstimo a países altamente endividados como estão, por exemplo, e no Continente africano, a Zâmbia, a Etiópia ou mesmo Angola.

O ministro das Relações Exteriores Téte António pediu ao seu homólogo chinês, Yang Yi, em Dacar, no Senegal, num encontro à margem de mais um Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), apoio para a produção conjunta de vacinas e para a transferência dos Direitos Especiais de Saque (SDRs) do FMI.

Os líderes africanos têm apelado à realocação do equivalente a 100 mil milhões de dólares de SDRs dos países mais ricos e contam com o apoio de alguns países europeus como Portugal e França, mas tem de ser feito em forma de empréstimos em estreita ligação com os bancos centrais dos países que vão ceder os seus SDRs.

Projectos como o Poverty Reduction and Growth Trust, do FMI, têm vindo a ser considerados para facilitar as realocações.

Neste encontro no Senegal com o seu homólogo chinês, o ministro das Relações Exteriores Téte António voltou a afirmar a importância que Angola dá às relações bilaterais e agradeceu o apoio que a China tem dado ao país durante a pandemia - recorde-se que a vacina chinesa Sinopharm é a vacina mais inoculada aos angolanos.

Wang Yi retribuiu dizendo que a China dá igualmente grande importância às relações bilaterais e que apoia Angola num maior protagonismo nos assuntos internacionais e regionais, e isto segundo a site China Lusophone Brief, em que ainda se acrescenta que os dois países trabalharam juntos na arena internacional para salvaguardar os direitos e os interesses legítimos um do outro num clima de mútua confiança política.

Também no ano passado, em Novembro, Angola aderiu a uma iniciativa do G20, a Internacional Debt-Relief Initiative (DSSI), de alívio do pagamento do serviço da dívida. Os ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais das 20 mais relevantes economias do mundo concordaram em suspender o pagamento da dívida aos países mais pobres e mais endividados. E logo ali se percebeu que 70% da dívida desses países é à China.

A China suspendeu o pagamento do serviço da dívida, no equivalente a 2,1 mil milhões de dólares, a 32 países pobres e endividados, incluindo Angola, que conseguiu criar uma almofada de alívio de 6,2 mil milhões de dólares, que terá de pagar a partir de 2023. Parte substantiva deste valor vem do alívio do pagamento do serviço da dívida à China, o principal credor de Angola.

Entretanto, aproveitando mais uma oportunidade, Angola não quis deixar de sinalizar que precisa de mais financiamento e que uma possível realocação de parte dos SDRs dos países mais ricos, a acrescentar aos cerca de mil milhões a que o país pode aceder da parte que lhe cabe como Estado-membro do FMI, é bem-vinda.