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Opinião

Corrida à vacina da Covid-19 e o déjà vu da corrida armamentista na Guerra Fria

Convidado

Durante a Guerra Fria, as duas grandes potências mundiais - por um lado os Estados Unidos (no bloco Ocidental), com um modelo económico baseado no capitalismo liberal, no liberalismo económico e na iniciativa privada, e por outro lado a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (no bloco Oriental), com um modelo económico baseado no comunismo e no marxismo-leninista, onde o Estado era o único agente impulsionador da economia, gerador de empregos e de sustentabilidade do povo, que no período após 1945 (ano em que termina a II Guerra Mundial) - lançaram-se numa disputa pela hegemonia do Sistema Internacional.

Luta que traduzia uma competição económica, ideológica, cultural, identitária, militar, tecnológica, validando os argumentos teóricos da escola tradicional do conceito de Anarquia Internacional, que é Tomas Hobbes, que, na sua obra intitulada ""Levitã, 1651"", defendeu sempre a existência de uma Anarquia Internacional, embora Kenneth Waltz seja provavelmente o mais coerente de todos os internacionalistas que brandem o conceito de anarquia em ""Theory of International Politics, 1979"" ao afirmar, com meridiana clareza, e bem justificada, que entre homens ou entre Estados a anarquia pressupõe a desordem, uma anarquia que criou um mundo bipolar.

Porém, a Guerra Fria teve várias crises e uma delas é a famosa crise dos mísseis de Cuba, que é um grande exemplo de corrida armamentista, cujo objectivo principal era um provar ao outro que tinha mais poderio militar e arsenal bélico. E, deste ponto de vista, tanto o bloco capitalista como o bloco comunista viam a necessidade de fortalecer os seus aliados. Porém, estes mísseis saíram da URSS para Cuba, de forma clandestina (submarina) e a CIA nem sequer percebeu.

Em 1991, termina a Guerra Fria, com a desintegração da URSS e uma vitória clara do capitalismo sobre o comunismo. Os EUA afirmam- -se como a superpotência mundial, a todos os níveis - económico, político, cultural, identitário -, e estabelecem uma Ordem Mundial, baseada num código geopolítico. O mesmo cenário aconteceu na corrida pela vacina da Covid-19, só que desta vez é uma guerra (biológica), compreendida pela mesma estratégia, cujos factos denotam um déjà vu. Os EUA, a Rússia, a China e alguns países da União Europeia, lançaram- -se na corrida pela vacina da Covid-19, onde cada um tinha o objectivo de mostrar ao mundo o seu pioneirismo, a nível da Biologia e da Virologia, trazendo uma solução para o problema, e reafirmar-se como o mais eficiente em detrimento dos outros, sob forma de ganhar respeito a nível internacional, e uma pretensão de monopólio hegemónico na comercialização da vacina. Deste ponto de vista, e tal como na Guerra Fria, presenciamos aqui a uma grande competição, que se traduz numa anarquia internacional.

Nos EUA e na Alemanha, por exemplo, foram desenvolvidas várias vacinas, entre as quais se destaca a vacina da BioNTech- -Pfizer, lançada para competir no sistema internacional e posicionada para ser administrada em larga escala à população mundial, alegando que na sua fase experimental obteve 90% de imunização.

*especialista em Relações Internacionais

(Leia o artigo integral na edição 623 do Expansão, de sexta-feira, dia 7 de Maio de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)