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Economia

Necessidade de criar auto-emprego coloca Angola com taxa mais alta de empreendedorismo

RELATÓRIO DO GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR (GEM) SOBRE 43 PAÍSES

Elevado desemprego obriga a população a procurar actividades empreendedoras para subsistir. Ainda assim, a capacidade de estabelecer novos negócios em Angola contrasta com uma dura realidade revelada pelo estudo da GEM: por cada cinco negócios iniciados, quatro não sobrevivem.

A necessidade obrigou os angolanos a procurarem alternativas ao desemprego através da criação de negócios, contribuindo para que Angola tenha a mais alta taxa empreendedora do mundo, de acordo com o relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020/2021, que avaliou a actividade empreendedora em 43 países através de inquéritos.

Angola registou uma Taxa de Actividade Empreendedora Early-Stage Total (TEA) de 49,6%, bastante acima do segundo país do ranking, o Togo, que obteve 32,9%. Ou seja, de acordo com o estudo, em Angola existem quase 50 empreendedores early-stage (indivíduos envolvidos em startups ou na gestão de novos negócios) por cada 100 cidadãos em idade adulta. Um número bastante acima do de 2014, quando, por cada 100 cidadãos, existiam cerca de 22 empreendedores, ou do de 2016, quando existiam 35 empreendedores early-stage por cada 100 cidadãos, segundo o relatório que resulta da parceria entre a Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC-UCAN) e o BFA.

A população angolana prioriza duas motivações para iniciar um negócio, sendo o primeiro "ganhar a vida porque a oferta de emprego é escassa", uma tendência que é "habitual" nas economias de rendimento baixo, onde é "necessário criar formas de gerar riqueza e assegurar subsistência, quando o PIB per capita é baixo e a oferta de emprego é residual". Ou seja, à falta de emprego, os angolanos são obrigados a procurar uma solução para subsistir.

E apesar de o relatório do GEM não o revelar, basta olhar para os dados sobre o emprego publicados trimestralmente pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) para perceber que este empreendedorismo todo acaba por acontecer sobretudo no sector informal pois só no I trimestre deste ano, dos 330.876 postos de trabalho criados face ao final de 2020, 246.656 encontraram o ganha-pão das suas famílias nos biscates e apenas 84.220 conseguiram emprego formal. Por cada quatro novos empregados, apenas um foi para o sector formal.

Assim, o crescimento da informalidade em Angola (onde 80% dos "empregos" estão na informalidade) transforma o País num estaleiro de biscates, de relações laborais desreguladas e de trabalhadores sem protecção social. O facto de a população do País estar a crescer (mais de 3% ao ano) acima do crescimento económico (economia angolana saiu agora de cinco recessões económicas), faz com que Angola esteja a criar mais pobres, já que a economia não consegue gerar emprego para a população que todos os anos entra em idade activa.

Desta forma, a solução passa mesmo por empreender. E é por isso que, de acordo com o relatório, a actividade empreendedora early-stage na faixa etária mais jovem (18-24 anos) tem registado o maior crescimento: foi a faixa etária com a menor taxa de actividade empreendedora early-stage em 2014 (15%) e quase a maior em 2020 (54%), com a diferença de apenas um ponto percentual relativamente à faixa etária dos 25- 34 anos (55%).

(Leia o artigo integral na edição 677 do Expansão, de sexta-feira, dia 03 de Junho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)