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"Nuvem negra" sobre Davos com risco de fragmentação geoconómica no horizonte

DIRECTORA-ADJUNTA DO FMI AFASTA CRISE DA DÍVIDA SOBERANA

"As tensões sobre o comércio, as normas tecnológicas e a segurança têm vindo a ferver há muitos anos, minando o crescimento e também a confiança no actual sistema económico global", admite Kristalina Georgieva.

O impacto da guerra na Ucrânia dominou a agenda deste ano do Fórum Económico Mundial, que voltou a reunir líderes empresariais e políticos na vila suíça de Davos, após dois anos de ausência por causa da pandemia da Covid-19. Pavor e incerteza foram os sentimentos que dominaram o encontro, que reuniu até quinta-feira, 26, a nata das finanças mundiais, como reflecte a imprensa internacional, e com a directora do FMI a alertar para a necessidade de "combater a fragmentação geoeconómica".

"A incerteza económica e a guerra em curso lançam uma nuvem sobre Davos", titulou na terça-feira o Washington Post, que revela um ambiente menos descontraído do que nos fóruns de anos anteriores. "Nunca tivemos um Davos como este", descreveu Rich Lesser, presidente do Boston Consulting Group, numa entrevista ao diário norte-americano. "Os desafios do mundo sentem-se bastante. Há muita incerteza e ansiedade em relação à corda bamba por onde os governos precisam de caminhar para conter a inflação sem empurrar as economias para a recessão. Como irá decorrer a guerra? O que irá acontecer na China? Estamos a olhar para tudo isso?"

As perguntas são atiradas em catadupa e atestam o estado de espírito, que, segundo o Washington Post, é "decididamente sombrio" e"pesado" pelas "preocupações com a pandemia da Covid-19, guerra contínua, aumento da desigualdade económica e receios de um abrandamento económico global".

A Associated Press segue o mesmo tom no relato que faz do Fórum, dominado pelo espectro da fome, que mobiliza as agências das Nações Unidas na procura de soluções e ajuda para as milhões de pessoas que caírem este ano em situação de extrema pobreza, a maioria em África.

Confluência de calamidades

Antes de partir para Davos, a directora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, traçou com a sua primeira directora-adjunta, a indiana Gita Gopinath, e Ceyla Pazarbasioglu, directora do Departamento de Estratégia, Política e Revisão, linhas de orientação para "combater a fragmentação geoeconómica". O risco é enorme e é uma consequência da persistência de crises - "uma atrás da outra", que coloca a economia global perante "o maior desafio desde a II Guerra Mundial".

À guerra na Ucrânia, após a pandemia, acresce o "forte aumento da volatilidade nos mercados financeiros e a ameaça contínua das alterações climáticas", factores que geram uma "confluência de calamidades", que pode fragmentar o mundo. "Como chegámos a esta encruzilhada?

Durante as últimas três décadas, os fluxos de capital, bens, serviços e pessoas transformaram o nosso mundo, ajudados pela difusão de novas tecnologias e ideias. Estas forças de integração aumentaram a produtividade e o nível de vida, triplicando a dimensão da economia mundial e tirando 1,3 mil milhões de pessoas da pobreza extrema", lembra Georgieva.

Só que o sucesso da integração "também trouxe complacência". As "desigualdades de rendimento, riqueza e oportunidades têm continuado a agravar-se em muitos países durante muito tempo" e "as pessoas têm sido deixadas para trás à medida que as indústrias têm evoluído no meio da concorrência global". Perante isto, os "governos têm tido dificuldade" em ajudar quem fica para trás. E é esse o desafio das lideranças políticas.

"Só a incerteza sobre as políticas comerciais fez com que o produto interno bruto global em 2019 diminuísse quase 1%, de acordo com estudos do FMI. E desde o início da guerra na Ucrânia, as nossas observações indicam que cerca de 30 países impuseram restrições ao comércio de alimentos, energia e outras mercadorias importantes", salienta a directora-geral do FMI, notando que "uma maior desintegração implicaria custos enor[1]mes para todos os países".

Contra a corrente, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, recusou a ideia de uma "recessão iminente" e Gita Gopinath desactivou os alarmes de uma crise da dívida soberana, apesar dos "riscos". Embora os níveis da dívida pública estejam a subir, até agora não há provas de uma crise de dívida sistémica, clarificou.