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Opinião

Crédito bancário: condicionalidades e crownding in

Convidado

O crédito bancário teve uma trajectória crescente, desde os anos 2005 até o ano de 2014 (vou chamar de período antes da crise), com uma taxa média de crescimento em torno dos 36%. A partir de 2014 (vou chamar de período de crise) começou a declinar, registando uma variação média, até 2019, de menos 0,08%.

Os estudos da Deloitte Angola, Banca em Análise, demonstram que no período antes da crise, o volume de crédito concedido pelo sector bancário foi de 14,3 mil milhões Kz, comparativamente aos 14,8 mil milhões Kz concedidos no período de crise (2015 a 2019). A priori, o que se pode depreender daqui é que os bancos concederam mais crédito no período de crise, no entanto, o rácio de transformação médio e a evolução do volume de depósitos dizem-nos outra coisa.

Podemos ver isso com lupa: no período antes da crise em que a banca havia concedido cerca de 14,3 mil milhões Kz, o rácio médio de transformação foi de 55%, ou seja, durante aquele período, por cada 100 Kz de depósitos feito, 55 Kz destinavam-se ao crédito. Já no período de crise, em que o volume de crédito atingiu o valor de 14,8 mil milhões Kz, o rácio médio de transformação foi de 40%, isto é, desta vez, por cada 100 Kz em depósito, a banca já não alocava 55 Kz para crédito, alocava 40 Kz, o que perfaz uma redução relativa no volume de crédito em 15 Kz, por cada 100 Kz em depósitos feitos.

No período antes da crise, o volume de depósito foi de aproximadamente 25 mil milhões Kz, enquanto no período de crise os depósitos ascenderam a 37 mil milhões Kz. O que quer dizer que nestes tempos de crise o sector bancário tem tido mais liquidez para conceder crédito, e como os rácios de transformações têm reduzido substancialmente, pode-se concluir que a banca, embora estando em melhores condições financeiras, tem feito cada vez menos esforços para financiar a economia e está a deixá-la carente numa fase em que mais precisa.

Ademais, se a banca tivesse mantido constante o rácio médio de transformação de 55% do período antes da crise, no período de crise teria concedido à economia 5,6 mil milhões Kz a mais, perfazendo cerca de 43 mil milhões Kz, comparativamente aos 37 mil milhões Kz concedidos, ceteris paribus.

Uma comparação da tendência do volume de crédito e do volume de depósitos demonstra que os bancos têm cada vez menos apetência a conceder crédito, sendo que os rácios de transformação têm decrescido significativamente desde 2015, enquanto os níveis de depósitos continuam cada vez mais altos.

Condicionalidades do crédito bancário

Inúmeras razões têm condicionado o crédito bancário em Angola, dentre elas a política monetária e de regulação, crescimento económico e questões estruturais (direitos de propriedade, desigualdade na distribuição do rendimento, doing business,...)

Concernente à política monetária, há um amplo consenso ao nível da literatura económica relativamente ao poder dos bancos centrais para influenciar a procura e a oferta por crédito e, consequentemente, o volume de crédito bancário concedido. Em rigor, a influência do Banco Central passa pela manipulação dos instrumentos de política monetária, alterando a quantidade de moeda no sistema bancário e, consequentemente, o volume de crédito.

No caso concreto do BNA, devido ao sistema financeiro subdesenvolvido que limita a sua capacidade de actuação, o seu estímulo ao crédito tem passado muito mais por uma política de regulação do que monetária. Actualmente, o BNA tem influenciado os níveis de crédito via publicação de Avisos (Aviso nº 10/2020 de 3 de Abril,...), directivas (Directiva n.º 05/DSB/DRO/ 2019 de 20 de Maio,...) e instrutivos (Instrutivo nº 15/2020 de 22 de Setembro,...)

O crescimento económico é certamente uma das causas que afecta o volume de crédito, e os meus cálculos, usando como fontes os dados da Banca em Análise e os do Banco Mundial, demonstram que o crescimento económico e o volume de crédito caminham na mesma direcção, contando com um nível de correlação positivo próximo dos 60%. O que quer dizer que o crédito bancário é prociclico, ou seja, tende a crescer em períodos de expansão e tende a decrescer em períodos de recessão. A razão desta prociclicidade dá-se porque os períodos de recessão são caracterizados por altos riscos e incertezas, pelo que os incentivos à concessão de crédito são menores.

*Economista e investigador

(Leia o artigo integral na edição 623 do Expansão, de sexta-feira, dia 7 de Maio de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)