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"Depois de bater portas, deverei ser patrocinador de mim mesmo"

CAMILO LEMOS

Tem dois livros finalizados à mão e precisa de financiamento para avançar com os passos seguintes. Já conseguiu algum dinheiro com a ajuda de pessoas próximas, mas precisa de mais para conseguir colocar as obras à disposição do público.

Tem em mãos a publicação de dois livros, que estão condicionados pela falta de dinheiro. Como está o processo?

O processo anda como uma mulher abandonada no altar, como uma viúva no canto da sua dor, na presença ausente do homem que ama.

E vai continuar a insistir até para conseguir financiamento para a segunda obra?

Até ao momento foi possível mobilizar 26 pessoas de muita boa fé, uma sinergia que resultou numa ajuda de 210 mil Kz para uma necessidade de 2.750.000 Kz. Depois de bater à porta de embaixadas, organizações e deles receber o silêncio e o não, confesso que vou preparando o meu cérebro para aceitar a ideia que deverei ser patrocinador de mim mesmo. Aliás, foi com este espírito que consegui pagar a factura de 500 exemplares da obra "Sou eu mesmo o angolano".

O acesso a financiamentos na área da cultura parece ser complicado.

A arrecadação de dinheiro nunca é fácil para ninguém. Até porque as pessoas de boa-fé, que têm as mãos abertas para patrocinar a literatura (ainda não as descobri), tiveram que fazer e continuam fazendo um esforço para terem o dinheiro que têm. Por isso é que eu valorizo e continuarei a valorizar as pessoas amigas que tiraram dos seus bolsos mil, dois mil ou cinco mil Kz para acolherem o meu clamor.

Ainda nos falta solidariedade?

O País é grande! Dizer que não há solidariedade só porque não consegui a ajuda que gostaria seria agir de forma emocional e sem sabedoria. Devo acreditar que existem pessoas com coração nobre, que provavelmente procuram por projectos para darem as suas mãos.

E onde ficam as editoras?

Eu trabalho com a Traços e Design. Cuidaram de todo trabalho, tanto que foi esta editora que sugeriu a gráfica com quem estou a trabalhar. O contrato incluía apenas a edição, paginação, pré-impressão. O financiamento não estava incluído.

Quais são os enredos que trás nos dois livros?

O primeiro, "O ventre da sabedoria" é uma criação que resulta da cooperação entre o seu autor e a vida. Já o segundo, "Sou eu mesmo o angolano" sugere-nos um mundo para o qual todos convergem. Retrata a dor de um coração que ama, que cansou de amar. A obra vislumbra o universo que o próprio homem se nega a ver e a mostrar.

Qual é a importância de lançar os dois livros em simultâneo?

Confesso-lhe que em termos gerais não há importância alguma. Eu poderia lançar primeiro o livro "Sou eu mesmo o Angolano". Mas depois os leitores teriam dificuldades de entender a sabedoria por trás dos textos, que numa primeira vista parecem ser poemas mal construídos.

Não são obras recentes. Em que contexto é que foram escritas?

As obras começaram a ser escritas em Waku-Kungo, província do Cuanza-Sul num contexto em que o País expirava o brilho do sucesso económico, da paz, onde tudo apontava para o bem-estar, um futuro brilhante. Muitas destas sabedorias têm hoje lugar no cenário político, social e não só. A minha tristeza é, até data, saber que os livros não foram lançados por falta de recursos financeiros.

É natural de Cuanza Sul mas precisou de vir para Luanda para realizar os seus sonhos. Como olha para a sua trajectória?

Obrigado pela pergunta, pois me dás a oportunidade de inspirar, olhar para o passado, e encontrar os meus amigos da bebedeira, das drogas e que já não fazem parte do mundo dos vivos. Vim a Luanda para ser jornalista. Tornei-me jornalista e tantos outros espaços conquistei, menos dinheiro (risos). Dizem que sou vencedor e um exemplo a seguir.

(Leia o artigo integral na edição 670 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Abril de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)