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"Quando faço arte considero-me um deus"

LEANDRO MARQUES

Descobriu o interesse pela arte com os desenhos animados que assistia. Dali surgiu o desenho e mais recentemente a pintura. O artista defende que o fomento da arte e cultura depende mais dos fazedores do que do Estado. E tem nos planos o projecto "Permuta".

Como surgiu o seu interesse pela pintura?

O meu interesse pela arte, em si, nasceu dos desenhos animados, especificamente o Dragon Ball, e toda a Disney, lá nos anos 1990. Desde esta altura que passei a me interessar pelos desenhos. E levou muito tempo até dar um salto para a pintura, é difícil dizer mas assumo que sou um "procrastinador nato" (risos). Levo muito tempo até colocar em prática tudo o que tenho em mente. Mas sou artista plástico há quatro anos.

Entretanto, já realizou a sua primeira exposição individual?

Sim. A minha primeira mostra, "Eclosão", foi na galeria Tamar Golan. Retratava precisamente este movimento das coisas, a eclosão.

Que nome dá a esta colecção de quadros sem rosto?

Honestamente, não sei que nome dar. Só sei dizer que surgiu da necessidade de fazer algo diferente. Sou essencialmente retratista e com o tempo fui-me cansando dos retratos e decidi fazer algo a mais. Quis aproveitar a liberdade que a arte nos oferece de podermos criar. Aliás, quando faço arte considero-me um deus, e uso deste poder para literalmente fazer coisas incríveis que só a arte me ajuda a exteriorizar.

E deixar os apreciadores descobrir?

Sim. A ideia de não desenhar rostos é também uma forma de dar asas à imaginação dos apreciadores de arte. Até porque não quero que a minha arte seja concreta. Não quero que as pessoas olhem para a minha arte e tirem conclusões de imediato.

Esses trabalhos fazem parte de alguma exposição?

De momento vou fazendo os quadros até por encomenda, e quiçá dará em algum projecto, porque há propostas que ainda não estão confirmadas. Mas a ideia é não ficar parado, é aperfeiçoar o trabalho.

Mas sem nome?

"Sem nome" por enquanto, mas também porque não fui eu que criei o estilo, já existem vários artistas que desenvolvem algo semelhante eu apenas faço à minha maneira. Digo isto porque sou autodidacta, nunca frequentei um curso ou escola de arte, então se vejo algo que me inspira faço à minha maneira.

E não sente falta da formação académica no seu percurso?

Não tenho formação académica, mas não quer dizer que não vá atrás de informação sobre a arte. Tem o ensino médio em Construção Civil no IMIL.

Já pensou em exercer?

Nunca. Aliás, fiz o curso por influência dos meus pais. Se dependesse de mim só faria arte o tempo todo. Andei por algumas faculdades mas nunca saí do primeiro ano. A academia não é um lugar bom para mim. Acho que todos sabem dos problemas da academia.

E como consegue os materiais de trabalho?

É a coisa mais difícil para a nossa realidade. A coisa é mais fácil para os artistas já com carreiras cimentadas, porque já vendem melhor e conseguem adquirir material de qualidade. Apesar de escasso, encontra-se material de qualidade mas é bastante caro. Por isso, quem tem possibilidade consegue importar os produtos. E como artista emergente, adapto-me à minha realidade.

E impacta na venda dos quadros?

Trabalho com exposições e enco[1]mendas. Mas ainda é um ritmo muito lento. Para comprar arte precisamos de educação e incentivos. Vou particularizar um pouco. A minha arte é virada para os jovens e percebo que até apreciam mas não compram porque não têm poder de compra. E infelizmente, a arte não é uma necessidade prioritária. A obra de arte é um passivo para quem coloca em casa, só é activo os coleccionadores de arte.

Surgiu agora a plataforma Afrikanizm_artgallery para ajudar na partilha da arte, faz parte da iniciativa?

É uma maneira de fomentar a arte e dinamizar o nosso mercado que ainda é um "bebé". Sei que existem outras plataformas do género mas sem as particularidades do Afrikanizm_artgallery.

Já vive da arte?

Sim. Vivo da arte. É estranho dizer que vivo da pintura (risos). Estou confortável com o meu trajecto, tenho consciência que escolhi um caminho difícil para a minha vida. Aliás, a vida é feita de desafios. Enquanto angolano nunca esperei nada fácil, encaro os problemas com o algo normal. E são os artistas que devem criar formas para que o consumo de arte seja maior.

Como será, por exemplo?

Falando dos meus planos, sou jovem e artista, posso juntar-me a um jovem com outra ocupação para fazer a troca de serviço. Podia vender um quadro a um preço menor e ele dava-me também o que estiver a vender, ou o que sabe fazer. Chamo-lhe de permuta. Acho que todos precisamos de todos. Mas na altura certa vou tornar isto público