BNA "ignora" recado do FMI e avança com cortes de juros
Banco central baixou a taxa de juro directora (Taxa BNA) de 19,5% para 19,0%, após manter a taxa por sete vezes consecutivas. A decisão do BNA é justificada pela trajectória de redução da inflação, contrariando o FMI que recomendava evitar uma flexibilização prematura da política monetária.
O Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu desapertar a política monetária com cortes de 0,5 pontos percentuais (p.p) na taxas de juros, uma decisão que está em contramão ao aviso do Fundo Monetário Internacional (FMI), que recentemente alertou que o banco central "deve evitar uma flexibilização prematura da política monetária para sustentar a desinflação e ancorar as expectativas de inflação".
Assim, o CPM baixou a taxa de juro directora (Taxa BNA) de 19,5% para 19,0%, após manter a taxa por sete vezes consecutivas nos 19,5%. Este é também o sétimo desaperto da política monetária desde 2014.
O banco central, decidiu, igualmente, reduzir em 0,5 p.p a taxa de Juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez de 20,5% para 20% e a taxa de juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez de 17,5% para 17%.
A decisão do banco central é justificada pela trajectória de redução da inflação que tem se verificado no País, que segundo o governador Tiago Dias, está em linha com o objectivo de inflação do BNA de 17,5% para o final do ano, não obstante o cenário de incertezas que ainda se observa no plano internacional e as suas implicações nas contas externas do País.
Neste sentido é que o FMI alertou, no mais recente relatório sobre a conclusão avaliação pós-financiamento de 2025 com Angola, publicado neste mês, que o banco central "deve evitar uma flexibilização prematura da política monetária para sustentar a desinflação e ancorar as expectativas de inflação", ao mesmo tempo que saúdam "os esforços do BNA para melhorar a eficácia da política monetária". A instituição multilateral projecta uma taxa de inflação até Dezembro na ordem dos 20,0%, que poderá cair até 13% em 2026.
Para o economista Heitor Carvalho, o BNA ignorou o aviso do FMI, mas, clarifica que, tradicionalmente, as taxas de juro não são determinantes para a quantidade de moeda criada. Por isso entende que descer juros nas circunstâncias não parece adequado, embora espere que não venha a ter um efeito muito importante. "O que é mais eficaz na política monetária são os coeficientes de reservas", disse.
Já uma fonte ligada à gestão de um dos grandes bancos do mercado, entende que a decisão em reduzir a taxa directora foi prematura, embora acredite que a taxa BNA não tenha grande influência na inflação. "O BNA não toma medidas em função do que o FMI diz ou deixa de dizer, embora deva sempre não ignorar comentários de instituições como o FMI. O banco central toma decisão com base nos seus próprios critérios e é por isso que é independente, mas eu estava à espera que mantivesse as taxas de juro", disse.
Por sua vez, o economista Wilson Chimuco, aponta que é uma medida possível. "O ideal seria ver o BNA cortar em 100 pontos base e gerir até ao final do ano uma política monetária mais neutra".
Ainda assim, entende que o BNA não flexibilizou a política monetária, que de resto mantém-se restritiva, justificando que o banco central "apenas a ajustou em linha com a desaceleração dos preços".
"Este é o cenário ideal. Mas é importante não cantar vitória. Tenho defendido que a actual desaceleração dos preços é reflexo da "estabilidade cambial" e da desaceleração dos preços nos mercados internacionais. E ter mais kwanzas no mercado poderia precipitar nova pressão sobre a taxa de câmbio e, por arrasto, para uma nova aceleração dos preços", explicou.
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), apontam que em Agosto a inflação mensal desacelerou 0,37 pontos percentuais para 1,09%, mesmo com a subida do gasóleo que se verificou nos mês de Julho, tratando-se da inflação mensal mais baixa dos últimos 27 meses. E por arrasto, a inflação homóloga caiu 0,67 pontos percentuais para 18,88% no mês Agosto. Contas feitas, a inflação homóloga está a cair desde Julho do ano passado, ou seja, é a taxa de inflação homóloga mais baixa em 13 meses. Isto significa que os preços continuam a subir, mas a um ritmo menos acelerado do que no ano passado.
Assim, a taxa de inflação homóloga (18,9%) fica abaixo da taxa de juros directora (19,0%), coisa que não se verificava desde Outubro de 2023, quando a taxa de juros foi fixada em 17,0% e a inflação estava em torno dos 16,6%.