Em três anos o preço do ouro cresceu 154% ultrapassando os 4.110 USD por onça
Entre 1 de Janeiro de 2023 e esta quarta-feira, o ouro saltou de cerca de 1.824 USD/onça para níveis próximos de 4.110 USD/onça, explicado por factores macroeconómicos, financeiros e geopolíticos.
A evolução do mercado do ouro entre 2023 e 2025 evidencia uma trajectória de valorização sustentada, mas foi neste ano que o metal precioso atingiu uma dinâmica verdadeiramente excepcional, impulsionada por fluxos financeiros inéditos, compras oficiais persistentes e uma conjuntura global marcada por elevada incerteza. Em 2023, o mercado já revelava força estrutural.
Os bancos centrais continuaram compradores líquidos, reforçando reservas num contexto de inflação global acima das metas e volatilidade cambial. Apesar de alguma retracção na procura por ETFs (fundos que acompanham o preço do ouro). Em vez de comprar ouro físico, o investidor compra unidades do ETF, cujo valor sobe ou desce conforme o preço do ouro no mercado. No Ocidente, a procura física - especialmente barras e moedas - compensou parcialmente essa saída.
O preço médio anual manteve-se estável, apoiado pela percepção de que o ouro continuaria a ser uma protecção relevante em tempos de turbulência. O ano de 2024 marcou um ponto de inflexão. A procura total superou novamente as 4.900 toneladas, com os bancos centrais a ultrapassarem, pelo terceiro ano consecutivo, a marca de 1.000 toneladas adquiridas.
A oferta mineira cresceu de forma moderada, incapaz de acompanhar o ritmo da procura. Esta combinação impulsionou o ouro para máximos históricos, apesar de uma ligeira contracção da procura de joalharia em mercados sensíveis ao preço. A reentrada de capitais nos ETFs - sobretudo nos EUA - adicionou pressão compradora adicional, preparando terreno para a escalada que viria no ano seguinte.
O "ano de ouro" do mercado de ouro
Mas é em 2025 que o mercado do ouro ganha um protagonismo sem precedentes, tornando-se um dos activos de maior desempenho global. Três factores explicam este salto. Em primeiro lugar os fluxos recorde para ETFs.
O terceiro trimestre de 2025 registou entradas líquidas históricas nos fundos cotados em ouro, com destaque para os mercados norte-americanos e asiáticos. Os activos sob gestão ultrapassaram máximos anteriores, alterando o equilíbrio entre oferta e procura financeira. Estes movimentos - tipicamente mais sensíveis à revisão das expectativas de taxas de juro e à geopolítica - amplificaram a procura num curto espaço de tempo. Em segundo, a valorização explosiva dos preços. Com o reforço dos fluxos financeiros, o preço spot do ouro ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 4.000 USD por onça, atingindo picos que surpreenderam até analistas tradicionalmente optimistas.
A conjugação de dólar mais fraco, tensões geopolíticas e expectativas de descida das taxas reais nos EUA criou condições ideais para uma aceleração rápida da valorização. E por último, a continuação das compras oficiais. Mesmo com preços elevados, os bancos centrais mantiveram-se compradores, consolidando uma tendência estrutural iniciada em 2022. Estas compras funcionam como pilar para o preço, reduzindo a probabilidade de correcções acentuadas e reforçando a ideia de que o ouro se tornou um activo estratégico para gestão de reservas, sobretudo em economias emergentes. Do lado da oferta, pouco mudou em 2025, a produção mineira cresceu marginalmente e a reciclagem contribuiu apenas como amortecedor moderado. Esta rigidez da oferta aumentou a sensibilidade do mercado a qualquer acréscimo de procura.
Assim, a valorização do ouro desde Janeiro de 2023 não resulta de um único choque, mas da soma de tendências estruturais e conjunturais: políticas monetárias menos restritivas, compras oficiais persistentes, tensões globais elevadas, procura financeira crescente e uma oferta limitada.
O resultado é um mercado onde o ouro voltou a assumir o papel de activo central em tempos de incerteza, atingindo máximos históricos e consolidando-se como um dos investimentos mais resilientes do período recente.











