Riqueza monetária ociosa nas famílias precisa ser capitalizada
Defende a criação de instrumentos financeiros simples e rentáveis em Kz que aliviem a pressão cambial e permitam capitalizar as poupanças.
Existe riqueza monetária ociosa nas famílias angolanas que precisa de ser capitalizada, tendo em conta que a esta riqueza continua a deteriorar-se em função da elevada taxa de inflação que se verifica em Angola, aponta o Relatório Económico do I trimestre do Centro de Investigação económica da Universidade Lusíadas de Angola (CINVESTEC) divulgado esta semana.
Em termos práticos, a riqueza monetária é ociosa quando o capital (dinheiro ou outro activo) não está a ser utilizado para gerar mais riqueza através de investimentos, negócios ou outras actividades económicas, ao permanecer parado e sem produzir o retorno financeiro esperado.
Assim, os analistas entendem que a Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) precisa de ser célere e fazer a sua parte na promoção da poupança e do investimento, aumentando a liquidez e as opções no mercado, uma vez que os bancos mantêm uma postura conservadora, investindo principalmente em títulos de dívida pública.
"Como temos vindo a dizer, é necessário criar instrumentos financeiros simples e rentáveis em Kwanzas que aliviem a pressão cambial e permitam capitalizar as poupanças, que estão estacionadas na banca. Antes de mais, é necessário cotar em bolsa mais empresas e desenvolver o mercado de obrigações", aponta o relatório.
Entretanto, o CINVESTEC entende que a ideia de que o mercado de produtos financeiros se pode desenvolver sem uma participação activa da banca comercial já demonstrou a sua ineficácia. "A redução do volume de negócios da BODIVA em 2024 e a falta de liquidez do mercado de acções e obrigações privadas demonstra-o de forma categórica", realça.
Os números do I semestre deste ano demonstram que o volume de negociações na BODIVA cresceu 11% para 2,3 biliões Kz face aos 2,1 biliões Kz registados no período homólogo. Este crescimento é suportado pelo aumento dos títulos de dívida pública negociados na bolsa, já que estes representam 99,9% das negociações da BODIVA, enquanto que os outros instrumentos como acções, as unidades de participação de fundos de investimento e obrigações privadas valem apenas 0,1%, o que demonstra baixo interesse dos investidores nos diversos instrumentos do mercado de capitais.
Informalidade é alternativa
Os rendimentos baixos e preços altos, falta de produtos de poupança e taxas de retorno negativas penalizam a poupança das famílias angolanas. Muitas preferem guardar o dinheiro em casa ou recorrer à "kixikila" como alternativa de poupança e crédito bancário. A informalidade em Angola se instituiu como a maior parte da actividade económica do País, já que é o meio de subsistência de muitas famílias e, consequentemente, como uma solução alternada de geração de emprego. Os dados do II trimestre do INE, apontam que a informalidade nos empregos criados representam 78,6% da população empregada em Angola.
Assim, segundo o CINVESTEC, apesar de as famílias possuírem poucos meios de produção, estes trabalhadores informais possuem, em conjunto, um enorme património que poderia, com algumas medidas adequadas, transformar-se em capital.
"Cabe aqui apenas dizer que a informalidade, impede a utilização como capital de uma parte importante da riqueza do País, materializada no património dos negócios informais. Em resumo, não temos capital e continuamos a fazer tudo para continuar assim!", conclui.