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Indemnizações no sector segurador crescem 25% para 95.591 milhões Kz

NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2025

No I Semestre deste ano as indemnizações cresceram mais do dobro dos prémios (11%), o que significa uma margem menor para as seguradoras. O incêndio na plataforma petrolífera BBLT em Cabinda empurrou este valor para cima, enquanto que as vendas cresceram abaixo da inflação.

O sector segurador angolano registou uma forte expansão na factura de sinistros no primeiro semestre de 2025, sinalizando uma potencial inversão da tendência descendente observada nos últimos anos. Entre Janeiro e Junho, as indemnizações totalizaram 95.591 milhões Kz, um aumento de 25% face ao período homólogo, segundo cálculos do Expansão com base no relatório trimestral da ARSEG.

Só nos primeiros seis meses do ano já foram consumidos 67% de todas as indemnizações pagas em 2024, que somaram 141.887 milhões Kz. Para Mário da Conceição, especialista em corretagem de seguros, a trajectória deverá manter-se no restante do ano, impulsionada por eventos extraordinários, com destaque para o incêndio ocorrido na plataforma petrolífera BBLT, operada pela CABGOC (Chevron), em Cabinda, em Maio.

Este incidente, sublinha, tende a alterar o ciclo de redução da sinistralidade que o mercado vinha registando. Apesar do crescimento expressivo no ramo vida, com indemnizações a subirem 44,55% para 2.612 milhões Kz, este segmento mantém peso marginal no total (cerca de 2%). Já o ramo não vida absorveu 92.980 milhões Kz, um incremento de 24,66%, reflectindo a natureza predominantemente corporativa e operacional do risco segurado em Angola. O segmento doença continua a liderar os custos com sinistros, alcançando 60.313 milhões Kz no semestre.

A predominância deve-se à elevada frequência de pequenos eventos, como consultas, exames e aquisição de medicamentos, mais do que sinistros hospitalares complexos. Em segundo lugar surge o ramo petroquímico, com 7.922 milhões Kz, crescendo 132% e reflectindo maior exposição e materialização de riscos industriais. Também ganharam peso os seguros de acidentes de trabalho (8.131 milhões Kz), enquanto o aéreo, marítimo e transportes absorveram 1.474 milhões Kz.

Taxa de sinistralidade sobe e coloca pressão nas margens

A taxa de sinistralidade global atingiu 36,18%, uma subida de 4,2 pontos percentuais face ao semestre anterior. Embora o mercado tenha registado uma tendência de queda - culminando em 29% em 2024 - o choque de sinistros deste ano pode pressionar a rentabilidade técnica das seguradoras.

O ramo vida apresentou sinistralidade de 12,71%, enquanto o não vida atingiu 38,15%. Entre os segmentos, doença destaca-se com uma taxa de 68,95%, seguido do automóvel (53,65%) e acidentes de trabalho (30,85%). No extremo oposto, petroquímica e transportes registaram sinistralidades mais contidas, de 17,96% e 14,87%, respectivamente.

Produção cresce, mas abaixo da inflação

No lado das receitas, a produção de seguros cresceu 11% no semestre, atingindo 264.239 milhões Kz e já representando 55% do total emitido em 2024. Ainda assim, o crescimento nominal continua abaixo da inflação anualizada - estimada em 17% -, prolongando a dificuldade do sector em gerar expansão real sustentável. Depois de um desempenho positivo em 2023, o sector regressa à trajectória de crescimento real negativo, penalizado pela erosão inflacionária e pelo fraco dinamismo da procura.

O ramo vida foi o grande destaque, com prémios a subir 36,09% para 20.547 milhões Kz, voltando a ganhar tracção após dois anos de estagnação. No segmento não vida, o ramo doença voltou a liderar o crescimento, com receitas de 87.473 milhões Kz (+20,96%), seguido de acidentes de trabalho (+19,02%), automóvel (+12,05%) e incêndio (+34,90%).

As contribuições para fundos de pensões registaram um aumento de 16% para 62.171 milhões Kz, com a Sonangol Vida a liderar com 47.468 milhões Kz, seguida pela ENSA com 7.019 milhões Kz. No sentido inverso, o pagamento de benefícios subiu 12%, para 51.164 milhões Kz, reflectindo a maturação gradual dos planos de reforma. As pensões de velhice representaram a fatia maioritária (44.341 milhões Kz), seguidas de remissão (3.086 milhões Kz) e viuvez (1.765 milhões Kz).

Desafio estrutural persiste

O semestre confirma um cenário misto: maior dinamismo no segmento vida e robustez na captação de contribuições para fundos de pensões, mas também pressão crescente do lado dos sinistros, sobretudo em saúde e riscos industriais. O balanço reforça o desafio estrutural do mercado: crescer acima da inflação, gerir riscos emergentes - especialmente os de grande severidade - e consolidar a disciplina técnica para manter margens num contexto económico exigente.

Edição 851 do Expansão, sexta-feira, dia 07 de Novembro

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