Lucros da banca comercial aumentam 15% para 892 mil milhões de kwanzas em 2024
Os números da banca em 2024 ficam marcados pela ligeira queda dos investimentos em dívida pública e o aumento do stock de crédito. Tal como aconteceu no ano anterior, a depreciação do kwanza também "safou" os resultados, o que contribuiu para o crescimento dos resultados cambiais e consequentemente dos lucros.
A banca comercial registou um lucro acumulado de 892,0 mil milhões Kz em 2024, o que representa um crescimento de 15% (+ 119,5 mil milhões Kz) face aos 773,5 mil milhões Kz contabilizados em 2023, de acordo com cálculos do Expansão com base nos balancetes trimestrais divulgados pelas instituições bancárias.
Assim, os bancos somam o maior lucro de sempre em kwanzas, ultrapassando assim o registo de 2023, tal como aconteceu no ano passado, graças à depreciação do kwanza, que registou o nível mais baixo da década ao chegar 952 Kz por cada nota de 1 dólar em Outubro, o que contribuiu para o crescimento dos resultados cambiais e consequentemente dos resultados líquidos da banca comercial. Quando convertidos em dólares, os resultados líquidos dos bancos comerciais caíram 9%, ao passar de 1,1 mil milhões USD para 1,0 mil milhões USD, como consequência da depreciação da moeda nacional.
Os números alcançados em 2024 estão longe de ser o maior lucro em dólares dos últimos dez anos, já que estão abaixo dos 1,4 mil milhões registados em 2018, precisamente o ano em que arrancou o processo de flexibilização da moeda nacional, em que o kwanza depreciou 46% face ao dólar.
Tal como entende o economista e consultor financeiro, Alberto Vunge, no ano passado houve uma certa intensidade das operações no mercado cambial, por um lado, e das operações no mercado monetário interbancário, o que potenciou os lucros dos bancos.
"Os bancos têm muita exposição ao risco de variação cambial e detêm em balanço montantes importantes de activos e passivos monetários denominados em moedas diferentes do kwanza, principalmente dólar e em euros. Dependo da forma como os bancos procedem à gestão da sua posição cambial, havendo essa flexibilidade para se decidir que posição manter no balanço (se mais passivo do que activos monetários em moeda estrangeira ou inverso), podem realizar ganhos ou perdas, efectivas ou potenciais como resultado da variação cambial", explicou.
Ainda assim, Alberto Vunge entende que tem de se olhar para a estrutura das demonstrações de resultados e outros rendimentos integrais para aferir melhor as fontes dos resultados, a sustentabilidade ou qualidade dos ganhos da banca comercial.
Assim, só será possível quando os relatórios e contas forem divulgados em Abril, conforme estabelece o banco central.
Uma fonte ligada à banca também para tinha a mesma ideia, ao referir que tem de se de esperar pelos relatório anuais para ter uma melhor visibilidade do que terá acontecido. "Contudo, a reavaliação de activos e a depreciação cambial e a aplicação em títulos públicos continuam a ser a "vaca leiteira" do sector", sublinha.
Apesar dos resultados terem aumentado, os bancos investiram menos em títulos de dívida pública, aquela que tem sido por norma a principal aposta de investimento dos bancos, já que as aplicações títulos e valores mobiliários reduziram 6% para quase 7,0 biliões face aos 7,4 biliões de 2023.
O desinvestimento em títulos públicos deveu-se à escassez de liquidez verificada na banca no ano passado e à alta de inflação galopante registada no período, depois de ter atingido 31,1% em Julho, uma vez que as taxas de juro a que Estado se estava a financiar estavam muito abaixo da taxa de inflação, configurando taxas de juro reais negativas (quando a inflação é mais alta do que as taxas de juros praticadas na economia).
Mas o cenário foi revertido nos últimos quatro meses de 2024, quando o Governo acelerou a colocação dívida de curto prazo para "safar" o ano. Ainda assim, os bancos não investiram o suficiente em títulos para ultrapassar os registos de 2023.
Leia o artigo integral na edição 814 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)