Produção das resseguradoras em África cresce 8,8% para 6.269 milhões USD
Os prémios de resseguro em África voltaram a aumentar em 2024, mas o continente permanece pouco expressivo a nível global e altamente dependente de poucos operadores regionais e internacionais. A taxa de cedência recuou, a concentração agravou-se e Angola continua sem uma resseguradora nacional.
O volume de prémios emitidos pelas 48 resseguradoras a operar no continente cresceu 8,8% para 6.269 milhões USD, acima dos 5.763 milhões USD de 2023. Apesar do avanço, África representa apenas 1,6% das contribuições globais, num mercado mundial avaliado em 394.694 milhões USD.
O número revela uma realidade incontornável, África continua a ocupar um papel marginal numa indústria onde escala, diversificação e capacidade técnica são determinantes. A estrutura do mercado reforça essa leitura. O ramo Não Vida, tradicionalmente mais exposto a riscos imediatos - acidentes, danos materiais, catástrofes -, representou 87,5% dos prémios, enquanto o Vida ficou pelos 784 milhões USD.
A fraca penetração do seguro de vida não é apenas um reflexo de baixo rendimento disponível, traduz também falta de literacia financeira, insuficiente capilaridade comercial e um ambiente regulatório que, em muitos países, ainda não cria incentivos suficientes para o desenvolvimento deste segmento.
A África do Sul mantém uma posição claramente destacada. Em 2024 emitiu 38.430 milhões USD em apólices Vida e 12.001 milhões USD em Não Vida, captando sozinha 52% e 16% dos prémios africanos. Esta discrepância mostra que, sem mercados financeiros profundos e regimes regulatórios robustos, dificilmente os restantes países africanos conseguirão acompanhar o ritmo.
Concentração
No resseguro, a dependência é ainda mais evidente. A Africa Re continua a liderar com 1,2 mil milhões USD, seguida da Munich Re Africa (875,3 milhões USD), Atlantic Re (383,7 milhões USD), Companhia Central de Resseguros (369 milhões USD) e Swiss Re Africa (361,9 milhões USD). As cinco maiores absorvem 51% de todo o mercado, e o top 10 ultrapassa os 73%. A concentração crescente é sintoma de falta de capacidade técnica e capitalização adequada entre as restantes 38 resseguradoras. Especialistas do sector consideram que esta estrutura não favorece a diversificação nem promove competição saudável. Num continente exposto a riscos climáticos severos, volatilidade económica e fraca protecção regulatória, depender de poucos operadores significa que choques internacionais podem contagiar rapidamente os mercados locais. Além disso, mais de 60% da capacidade de resseguro utilizada em África continua a ser importada de fora do continente - essencialmente Europa, América e Médio Oriente -, o que constitui não só uma saída de divisas como também uma vulnerabilidade sistémica.
Taxa de cedência recua e expõe fragilidades
Outro sinal importante, a taxa de cedência africana recuou para 8,50% em 2024, depois de 9,10% em 2023 e 8,70% em 2022. Embora acima da média global (5,49%), o recuo mostra que as seguradoras estão a reter mais prémios, mas nem sempre acompanhadas de reforço proporcional no capital ou na gestão de risco. Para Estevão Bandi, gestor de risco da Prudencial Seguros, uma taxa de cedência tão baixa "levanta dúvidas sobre a verdadeira capacidade financeira das seguradoras para absorver choques de grande magnitude".
A retenção excessiva pode aumentar os lucros em anos de sinistralidade reduzida, mas torna o sistema vulnerável quando ocorrem eventos de grande escala - justamente o tipo de risco que o resseguro existe para mitigar.
A perceção de "robustez" pode, assim, ser ilusória, mais associada a constrangimentos de custos do que a uma real capacidade financeira para assumir riscos de catástrofes.
Países com mais capacidade
O Zimbábue lidera com 11 resseguradoras, seguido pela África do Sul com 7. São excepções num continente onde a maior parte dos países tem uma ou nenhuma resseguradora, muitas vezes com operações limitadas e baixa capacidade de absorção de risco. Angola permanece sem uma resseguradora nacional, houve dois projectos falhados na última década, embora esta já esteja aprovada pela ARSEG, impulsionada pela Ensa, Nossa Seguros, BIC Seguros, Fidelidade e Fortaleza, podendo entrada em funcionamento no I trimestre de 2026.
A inexistência de uma entidade nacional significa perda sistemática de prémios para o exterior, fraco desenvolvimento técnico no sector e menor capacidade de resposta em cenários de risco sistémico. Enquanto isso, as seguradoras angolanas dependem de resseguradores internacionais como Africa Re, Swiss Re, Munich Re, Mapfre Re, Trust Re, Chubb e Hannover Re, com brokers internacionais - Guy Carpenter, AON, AmWins Re, RFIB e ACE - a intermediar operações. Para um mercado que ambiciona maior autonomia e retenção de valor, esta estrutura continua longe do desejável.
Os números mostram crescimento, mas não escondem as fragilidades: baixa penetração dos seguros, escassez de capital, forte dependência externa e ausência de políticas coordenadas para desenvolver o resseguro africano. Sem maior integração regional, melhoria regulatória e investimento técnico especializado, o continente continuará com baixa relevância num dos sectores mais estratégicos para a estabilidade financeira.
Edição 855 do Expansão, sexta-feira, dia 05 de Dezembro de 2025











