Saída da Alrosa de Catoca custou 200 milhões USD
Depois de um divórcio que chegou a ser difícil, imposto por Angola, a multinacional russa acabou por sair da estrutura accionista da maior empresa diamantífera nacional, altamente pressionada por parceiros internacionais. Sanções à Rússia ditaram afastamento.
A Alrosa, gigante russo da exploração e comercialização de diamantes e antigo parceiro estratégico do País no sector, recebeu cerca de 200 milhões USD (ou 15.900 milhões de rublos) para abandonar a estrutura accionista da Sociedade Mineira de Catoca, a maior empresa de diamantes de Angola (com 7 milhões de quilates produzidos em 2024), que explora uma das principais minas do mundo.
A informação foi divulgada, durante o mês de Agosto, pela agência Reuters num artigo sobre o desempenho financeiro da empresa russa em 2024. No ano passado, a Alrosa produziu 33,1 milhões de quilates de diamantes e obteve receitas globais de 244.000 milhões de rublos (equivalente a cerca de 3.000 milhões USD), enquanto os lucros líquidos chegaram aos 240 milhões USD.
"Os lucros da Alrosa no primeiro semestre foram impulsionados pela venda da sua participação na mineradora de diamantes angolana Catoca, controlada pelo Estado, pela qual a Alrosa afirmou ter recebido 15.900 mil milhões de rublos", lê-se no artigo da agência de notícias.
A Alrosa é o maior produtor mundial de diamantes e, em conjunto com a De Beers, Rio Tinto e Petra Diamonds, representam cerca de 60% das vendas globais. Ao nível da lapidação de diamantes, a Índia controla 90% desta actividade, enquanto a principal região comercial é a América do Norte, onde são vendidas mais de 50% das pedras preciosas.
Em 2024, o volume de produção de diamantes em bruto diminuiu 12% em relação ao ano anterior, que regista também uma quebra de valor nos diamantes lapidados.
Ao longo do delicado processo de saída da Alrosa do País, apesar do processo de adesão de Angola à ITIE - Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas (ou EITI, na sigla em inglês), não foram partilhados detalhes publicamente sobre os acordos firmados entre o Estado e o antigo parceiro estratégico. Em temos gerais, sabe-se que a Alrosa tinha um grande peso nas funções técnicas em Catoca (como a manutenção de equipamentos, por exemplo, entre outras) e também no acesso a maquinaria e tecnologia de produção.
A saída da Alrosa de Catoca, onde estava desde a fundação da empresa, em 1997, foi justificada pelo Governo angolano com os efeitos negativos das sanções internacionais, devido à guerra na Ucrânia, que afectam diversas entidades e impedem o normal processamento de negócios, investimentos e transacções comerciais com a Rússia.
Em Janeiro de 2024, o PCA da Endiama, Ganga Júnior, explicou que os fornecedores externos de Catoca estavam a recuar e muitos bancos olhavam com receio a relação financeira com a maior diamantífera angolana por ter como sócia a gigante russa dos diamantes. " Todos sabemos que as sanções à Rússia e à Alrosa estão na base das negociações para a saída dos russos na Sociedade Mineira de Catoca", confirmou.
Saiu Alrosa entrou a Taaden
Uma subsidiária do fundo soberano de Omã, com o nome de Taaden, substituiu a empresa russa como accionista em Catoca, ao abrigo de um acordo formalizado oficialmente em Maio.
A Alrosa detinha uma participação de 41% em Catoca, que agora está sob controlo directo da Taaden, sendo as restantes acções detidas pela Endiama.
Segundo apurou o Expansão em Março deste ano, a Taaden nunca negociou directamente com a Alrosa, uma vez que o processo passava pela Endiama, que primeiro comprava a participação aos russos e que depois a revendia à Taaden.
Naquela altura, a parte russa não compareceu ao acto de assinatura da escritura pública, por não estar satisfeita com as propostas e garantias apresentadas pela Endiama - sua antiga sócia na Catoca -, já que a diamantífera estatal angolana deveria pagar um valor previamente acordado para adquirir a participação de 41%. Ao que tudo indica, o pagamento não foi efectuado como previsto, o que acabou por prolongar ainda mais o processo de separação amigável entre as partes.
A ruptura formal aconteceu a 17 de Março, quando a Endiama e a Taaden convidaram a imprensa para a cerimónia de assinatura dos contratos entre as duas empresas. Isto ocorreu antes do acerto oficial com os russos, que viria a acontecer no mesmo mês, quando a Endiama anunciou que, por deliberação unânime dos sócios, foi aprovada a saída da Alrosa da estrutura societária da Catoca.
Leia o artigo integral na edição 842 do Expansão, de Sexta-feira, dia 05 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)