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Viagens aéreas para o sul do País custam quase três salários mínimos

VOOS DOMÉSTICOS DA TAAG

Economistas alertam que o elevado custo das passagens e das taxas aeroportuárias limita a mobilidade, penaliza o turismo regional e revela a ausência de uma política integrada de transportes capaz de promover a coesão territorial e o desenvolvimento equilibrado das províncias.

Viajar com a TAAG para o interior de Angola tornou-se, para a maioria dos cidadãos, uma despesa quase inacessível. As tarifas de ida e volta em classe económica para províncias como Namibe, Cunene e Huíla, no Sul do território, oscilam entre 270 mil e 295 mil kwanzas - o equivalente a quase três vezes o salário mínimo nacional, actualmente fixado em 100 mil Kz.

Este desfasamento entre rendimento e custo de transporte coloca o acesso aéreo interno fora do alcance da maioria, acentuando desigualdades territoriais e comprometendo a mobilidade e a coesão económica nacional. De acordo com dados apurados pelo Expansão junto do site da TAAG, entre a última semana de Outubro e a primeira semana de Novembro, registou-se aumentos expressivos nas tarifas para uma mesma data, sair de Luanda na semana de 10 de Novembro e voltar na semana de 17.

As passagens ida e volta para o Namibe subiram de 234 mil para 295 mil Kz, enquanto para o Cunene passaram de 233 mil para 294 mil Kz - uma variação de 26% num curto espaço de tempo. Para o Lubango (Huíla), o aumento foi mais moderado, de 8%, situando o preço médio em 270 mil Kz. O que significa que quanto mais perto da viagem for comprado o bilhete, mais caro este se torna.

Trata-se de valores que, mesmo para a classe média, representam um encargo relevante, especialmente considerando que o transporte aéreo é muitas vezes a única alternativa viável face às longas distâncias e à precariedade das vias rodoviárias. Hoje, das saídas de Luanda para o interior do País, apenas a ligação ao Soyo se apresenta com condições aceitáveis para fazer a viagem por estrada. Para o sul do País é muito mais difícil, o que origina maior procura pelos voos aéreos, e por inerência, faz disparar os preços das passagens.

A diferença de preços entre destinos internos também evidencia o papel das políticas públicas. A rota para Cabinda, subsidiada pelo Estado, apresenta tarifas significativamente mais baixas - cerca de 28 mil Kz - embora todos os voos estejam esgotados até ao final de Dezembro. Outras rotas, como Bié (119 mil Kz) e Cuando Cubango (142 mil Kz), mostram que a variação tarifária depende fortemente da estrutura de custos, da procura e do nível de subsídio estatal. Economistas alertam que o transporte aéreo doméstico caro limita o potencial de desenvolvimento regional e agrava o isolamento de várias províncias. Márcio Raul, do Centro de Investigação Social e Económica (FEC- -UAN), defende que "nenhum país promove o turismo regional quando viajar entre províncias custa tanto quanto uma viagem internacional". Para o académico, o custo elevado dos bilhetes revela "uma desconexão entre a realidade económica do País e as políticas de mobilidade", sublinhando que "um voo Luanda- -Lubango pode custar o mesmo que uma viagem para a Namíbia ou a África do Sul".

Já Agostinho Mateus, investigador do CINVESTEC-ULA, considera que o problema ultrapassa a dimensão económica, assumindo contornos estratégicos. "Menor mobilidade significa menor produtividade nas províncias, menos oportunidades de investimento e uma economia concentrada em Luanda", refere.

A consequência é uma rede de exclusão territorial que penaliza não só os cidadãos, mas também sectores como o turismo e a hotelaria, cuja viabilidade depende da circulação interna. O impacto é visível: hotéis regionais operam com baixa taxa de ocupação, operadores turísticos enfrentam procura reduzida e o turismo doméstico mantém-se incipiente.

Márcio Raul lembra que "as principais atracções turísticas do País estão fora dos grandes centros urbanos", o que reforça a necessidade de uma política integrada que articule transporte aéreo, infraestruturas rodoviárias e serviços turísticos. "Não apenas é caro chegar, como também é difícil sair", sintetiza.

Leia o artigo integral na edição 851 do Expansão, sexta-feira, dia 07 de Novembro, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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