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Gestão

Empresas familiares e famílias empresárias em Angola

EM ANÁLISE

A tradição pesa na escolha dos sucessores que muitas vezes privilegiam os laços familiares em vez da competência. Este modelo pode comprometer a continuidade e o crescimento das empresas, que sem um plano claro e profissional, correm o risco de colapso. A solução passa por uma mudança de mentalidade...

Em Angola, como em diversas partes do mundo, poucos momentos na vida de uma empresa são tão desafiadores quanto a sucessão. Este processo, que pode ser descrito como um rito de transferência de poder, é um marco significativo nas organizações familiares. Na realidade angolana, a sucessão empresarial é especialmente relevante devido à predominância de empresas familiares que desempenham um papel vital na economia do país. Em muitos casos, essas empresas foram criadas durante períodos críticos da história nacional e representam tanto o legado das famílias quanto a sobrevivência económica das gerações futuras.

A sucessão, além de decisivam é necessária e, por isso, planear e antecipar estrategicamente pode ser a chave para evitar o declínio de uma organização. Em Angola, mais do que nunca, a sucessão é um processo essencial para a sustentabilidade a longo prazo, pois vivemos num ambiente empresarial em evolução que enfrenta desafios constantes, como a diversificação económica e o fortalecimento da competitividade global.

As sucessões, na verdade, deveriam ser celebradas, pois simbolizam que o negócio é maior do que as pessoas que o conduzem em um dado momento. Este processo, bem gerido, é um dos mais importantes para garantir a continuidade do negócio. As sucessões podem ser divididas em sucessão familiar e sucessão profissional. Cada uma tem dinâmicas que dependem de factores como valores culturais, interesses, atitudes, abordagens em relação à riqueza e poder, além das interacções pessoais e familiares.

A realidade angolana, caracterizada por estruturas familiares extensas e com fortes vínculos sociais, acrescenta uma camada de complexidade ao processo sucessório. Não podemos ignorar o peso das empresas familiares no país, que segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), representam 70% dos negócios, principalmente nos sectores de comércio, agricultura, serviços e pequenas indústrias, e empregam 75% da mão de obra. Esta força toda na geração de empregos e no fortalecimento da economia, porém, contrasta com os desafios que elas enfrentam na hora de garantir continuidade e sucessão.

Em média, só 30% das empresas familiares conseguem sobreviver à segunda geração e 12% chegam à terceira. Estes números podem ser ainda mais baixos no país, consequência da falta de planeamento sucessório e da baixa profissionalização das organizações. Sob uma óptica económica, a sucessão profissional, ou seja a passagem de comando para gestores que não pertencem à família, tem-se mostrado cada vez mais relevante.

Em muitos casos, os herdeiros não têm as competências de gestão exigidas para dar continuidade ao negócio, ou os fundadores resistem em ceder o controlo. Num cenário económico marcado por incertezas e desafios estruturais, esta opção estratégica é uma forma eficaz de assegurar a sobrevivência e o crescimento sustentável das empresas familiares. Na verdade, a sucessão empresarial continua a ser um dos grandes desafios para a sustentabilidade dos negócios.

A maioria das empresas não tem um plano estruturado para a transição de liderança, e a mudança só acontece quando não há outra alternativa. O resultado? Empresas vulneráveis, expostas a crises evitáveis. A falta de gestores qualificados agrava o cenário e, apesar dos avanços na educação, o mercado ainda sente a ausência de profissionais preparados para assumir cargos de alta liderança. A isto soma-se o facto de que muitas famílias têm medo de perder o controle do negócio ao entregar o comando a gestores externos.

A tradição pesa na escolha dos sucessores que muitas vezes privilegiam os laços familiares em vez da competência. Este modelo pode comprometer a continuidade e o crescimento das empresas, que sem um plano claro e profissional, correm o risco de colapso. A solução passa por uma mudança de mentalidade, com planeamento, formação de líderes e abertura para a profissionalização.

Adoptar uma sucessão profissional em empresas familiares permite que a neutralidade de gestão e o foco estratégico, resulte em melhores resultados, aumentando também a inovação e a competitividade ao introduzir práticas modernas. Isto garante uma continuidade sustentável, com uma governança corporativa em linha com as melhores práticas globais.

Não nos esqueçamos que o planeamento, investimento em formação de líderes, implementação de modelos de governança corporativa, são a chave para a sucessão bem sucedida.

A sucessão profissional é um dos caminhos mais promissores para a sustentabilidade das empresas familiares, especialmente num contexto de desafios económicos e grande competitividade. Ao planear estrategicamente e adoptar práticas de governança modernas, as empresas garantem a sua continuidade e contribuem significativamente para o desenvolvimento económico e social. O processo sucessório é, portanto, um equilíbrio entre voluntariedade e inevitabilidade, entre planeamento e desenvolvimento natural. é muito mais do que simplesmente "desligar" um líder e "ligar" outro.

É uma abordagem que preserva o legado familiar ao mesmo tempo que fortalece a posição das empresas como motores de crescimento e inovação na economia. Afinal, passar o testemunho não significa abandonar o controle, mas sim garantir que a corrida continua com sucesso.

Leia o artigo integral na edição 814 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Sandra Camelo, COO, TIS TECH

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