"Eu não me vejo como filha de um cargo. Sou filha de duas pessoas"
Assumiu a presidência da Comissão Executiva da BODIVA em Março, e entende que não deveria recusar "aquilo que foi não só um voto de confiança, mas uma oportunidade de continuar a contribuir para o mercado de capitais". Diz que é preciso separar as águas e puxa dos galões do alto do seu vasto curriculo para mostrar que chegou ao cargo máximo da bolsa pela sua competência, "casa" onde entrou em 2014, ainda antes de o seu pai, João Lourenço, chegar ao poder.
Em Março assumiu oficialmente a comissão executiva da BODIVA, e uma das questões que mais se levantou é o facto de ser filha do Presidente da República. Porque é que aceitou o cargo, quando sabia que se iria levantar essa questão da influência, pelo facto de ser filha do actual chefe Estado?
Vou ser mesmo muito sincera, eu não me vejo como filha de um cargo! Sou filha de duas pessoas. E, felizmente, quando o meu pai assumiu a presidência da República, eu já tinha a minha carreira consolidada ou no processo de consolidação. Eu comecei a trabalhar justamente na BODIVA e sempre dei aquilo que é o meu contributo na construção do mercado de capitais, isso desde 2014. Tive depois o meu percurso ainda em outras instituições, regressei à BODIVA, já exercia funções de administradora, ou seja, já estava no Conselho de Administração, e houve então essa oportunidade de assumir esse desafio. Naturalmente que eu tinha a noção de que haveria todo esse contexto da sensibilidade política, da sensibilidade de exposição por ser uma Pessoa Politicamente Exposta. Mas ainda assim, pelo percurso que eu já referi, não achei que seria um tema ou que deveria recusar aquilo que foi não só um voto de confiança, mas uma oportunidade de continuar a contribuir para o mercado de capitais. Continuaria a fazê-lo se fosse administradora, continuaria a fazê-lo enquanto presidente da Comissão Executiva. A profissional tem um apelido, tem uma família, mas sabe claramente separar as águas e não há aqui qualquer tipo de conflito de interesse, não há aqui qualquer tipo de nem sequer de favoritismo por ser filha do Presidente, mas eu conheço-me como filha do meu pai e da minha mãe.
Embora o foco não seja político, mas permita-me insistir nesta questão. Não se sente pressionada, tendo em conta que o anterior Presidente da República tinha também os seus filhos em posições de destaque e foi no que deu. E agora a filha do actual presidente também à frente de uma instituição pública.
A BODIVA, antes mesmo de ser uma sociedade aberta, era já uma sociedade anónima, detida 100% por capitais públicos, foi constituída com capitais públicos ainda em 2014 e funciona como uma empresa e não como um departamento da função pública. Nós temos autonomia financeira, temos autonomia de gestão, zelamos principalmente pela natureza do nosso negócio, pelas boas práticas de governança corporativa, pelas boas práticas de relato financeiro e todos os outros atributos próprios de empresas cotadas e principalmente de empresas que são gestoras de mercado regulamentados. Portanto, na BODIVA, posso assim dizer, cresci profissionalmente na BODIVA, então não me vi sequer nesse cenário que apresentou.
Mas não me respondeu. Não sente esta pressão política?
Não sinto.
Outra questão que também se levanta, é o facto de, logo depois de ter assumido a Comissão Executiva, verificaram-se aumentos dos salários dos órgãos sociais. O que esteve na base do aumento dos salários?
Houve de facto um aumento. Como disse, a BODIVA anteriormente era uma sociedade anónima e agora é uma sociedade aberta. Tudo aquilo que se refere à remunerações dos órgãos sociais é aprovado por Assembleia Geral. Anteriormente, nós já tínhamos feito alguns aumentos consecutivos, não só para os órgãos sociais, mas para o bolo de colaboradores da BODIVA como um todo. No caso, nós, Conselho de Administração, deliberamos ou temos poder deliberativo sobre os aumentos salariais do pessoal e, naturalmente, que não vamos ser nós a aumentar o nosso próprio salário. Portanto, tem uma comissão de remunerações, é submetido à consideração da Assembleia Geral e é o accionista a decidir se é aprovado esse aumento ou não.
Mas a BODIVA tornou-se uma sociedade aberta em Dezembro de 2024...
E, portanto, essa Assembleia Geral, que sempre ocorreu e sempre seguiu os trâmites normais que tem que observar, foi então uma Assembleia Geral característica de uma sociedade aberta. Temos documentos publicados, com todo o dever de transparência, com toda a informação clara. Nós, inclusivamente, antes mesmo de sermos sociedade aberta, já partilhávamos os nossos relatórios financeiros, e os números são claros. Estamos a falar de um aumento de 15%. Houve, de facto, um aumento de 15%, começando pela massa salarial dos colaboradores, e também os accionistas decidiram ou votaram no sentido de também acompanhar esse aumento para os órgãos sociais. Acredito eu que houve algum lapso na interpretação dos números [por parte de alguns órgãos de comunicação], que ocorreu depois de nós termos publicado um balancete, que é uma obrigatoriedade regulamentar, por termos a natureza de sociedade aberta. Acredito que na interpretação do balancete houve algum lapso e surgiram os números que ouvimos, mas que não são verdade, primeiro porque nem teríamos a capacidade financeira de comportar aqueles números e aquilo que de facto aconteceu foi publicado logo depois de termos concluído a Assembleia Geral.
E qual é o balanço que faz desde assumiu a presidência da Comissão Executiva da BODIVA?
Faço um balanço globalmente positivo. Positivo daquilo que tem sido o desempenho do mercado, primeiramente, e depois essencialmente naquilo que tem sido o nosso crescimento enquanto instituição. A BODIVA até Dezembro de 2024 era uma sociedade anónima, estávamos fechados. E este ano, é, efectivamente, o primeiro ano em que passamos a ter um dever de reporte aos accionistas, como também ao público em geral e ao regulador, acrescidos àqueles que já tínhamos pela nossa natureza de ser sociedade gestora de mercados regulamentados. Tem sido um processo de muito aprendizado, com alguns desafios, mas tenho que dar o mérito, naturalmente, à equipa, porque nem um líder se faz sem ter uma equipa, já que temos conseguido ultrapassar os desafios e continuamos a dar o nosso contributo naquilo que é o desenvolvimento do mercado de capitais.
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