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Grande Entrevista

"Não capacitar dá mais prejuízos à organização do que capacitar"

MAURÍCIO GUIMARÃES | DIRECTOR DO GRUPO ACELERADOR ANGOLA

Maurício Guimarães vê na capacitação o caminho para o sucesso das empresas, e sugere a aposta no desenvolvimento do capital humano, sem receio do mercado e da concorrência, para impulsionar a transformação da economia angolana.

O grupo Acelerador Angola tem trabalhado na capacitação de empresas e gestores sobre liderança, cultura organizacional, posicionamento de mercado. Que avaliação faz dos resultados em Angola?

Estamos em Angola há pouco mais de um ano e, de forma mais intensa, agora em 2025. Temos realizado várias acções, fizemos um workshop onde conseguimos trazer mais de 600 empresários, para mostrar um pouco da nossa metodologia. Temos alguns contratos firmados com empresas públicas e privadas. Estamos a fazer projectos personalizados para algumas empresas, para desenvolver os processos dessas empresas de forma mais intensa.

Qual tem sido o posicionamento do empresariado nacional?

Tem sido uma interacção muito boa. Percebemos que existem percalços para empreender no País, como em qualquer lugar. Não gosto de comparar, gosto de olhar para o empresário e perguntar, diante de tudo isso, o que se pode fazer com o que temos nas mãos? Existem dificuldades, políticas públicas, dificuldade para exportar e importar... Fora isso, o que é que o empresário pode fazer que ainda não está a fazer para melhorar? É esta a questão. Os empresários começam a entender que realmente muita coisa depende deles também, e essa interacção tem sido valiosa.

É fundamental esta interacção para que as coisas funcionem?

Posso mudar a minha realidade baseada no que posso oferecer para os clientes. Trabalhar melhor internamente com os funcionários. Vamos ter funcionários que não vão querer, isso acontece em qualquer lugar. Mas a chave é a forma como a empresa ou o gestor está a lidar com as políticas públicas, com a concorrência, com as exigências dos clientes. Quando se colocam estas questões, abre-se um leque de possibilidades de realização interna que dependem única e exclusivamente de quem decide. E essa interacção atrai muita gente que está a querer avançar.

O sucesso do empresário passa por aí?

O empresário precisa ter um olhar mais de médio e longo prazo. E falo sobretudo do pequeno empresário. Com 10 a 30 colaboradores, uma facturação mais baixa, enquadra-se no grupo de pequenas empresas. Este empresário muitas vezes começa o negócio com a possibilidade de vender o que ele aprendeu. Chega um momento que começa a ter que actuar na gestão, e na verdade ele nunca se preparou para gerir. Preparou-se para comprar e vender, para entregar um serviço, mas não tem ninguém a cuidar do seu negócio. Começa a entrar num jogo de gente grande, e deixa de ser um mero funcionário, ou o funcionário mais antigo da empresa, para ser o primeiro gestor do seu próprio negócio. Tem que começar a ter uma visão mais ampla, precisa se reconhecer, não como dono da empresa, que ele já é, mas como estratega da empresa. Tem que deixar de ser o excelente funcionário, para começar a gerir excelentes funcionários.

Como é feita essa transição?

Esta é a parte mais difícil. A transição é desafiadora, tirá-lo da condição de operador do negócio para gestor do negócio. Precisa de ter consciência que ele tem que sair disso, e precisa trazer pessoas melhores pra fazer o que ele faz.

E como deve ser esta consciencialização?

Falando das dores dele. A empresa está a crescer, mas a que custo? Muitas vezes prejudicando a família e isso não é bom. Se o empresário ganhar consciência disso, passa a olhar para a empresa de forma diferente e a ver como necessidade a organização ser gerida de forma eficaz ou profissional.

Mas para isso ele tem que saber ou estar aberto à entrada de pessoas para gerirem o que criou...

Sim. Nós fazemos com que este empresário saia do operacional e passe a ser mais estratégico no seu negócio. Muitos acham que as estratégias são apenas para grandes empresas, mas não. A estratégia serve para tudo. No caso das empresas pode começar pela reestruturação do organograma. Pouquíssimas empresas têm esse desenho. Esse desenho dá uma orientação e ajuda a acabar com muitos males que existem em algumas empresas, onde uma só pessoa decide tudo.

No caso de micro ou pequenas empresas, a pessoa decide ser o dono do negócio e quer estar a par de tudo. Isso é mau?

É necessário, no início da empresa. Chega a um momento que para a empresa crescer, é preciso começar a sair deste sistema e colocar pessoas certas. Inclusive, pessoas que fazem melhor do que ele. Porque ele não estudou e não tem conhecimento sobre todas as áreas da empresa.

Isto também funciona numa economia com grande peso de informalidade?

É verdade que temos uma grande informalidade. Mas temos muitas empresas que são formais. Quando falamos em informalidade, muitas vezes estamos a falar sobre a formalidade de governo, AGT, documentos. Mas temos que pagar impostos, porque o País só cresce com mais impostos, com mais empregos, é assim que o País cresce. Quando as empresas crescem, o País cresce, porque a economia gira, não depende só do governo. O governo faz a parte dele, mas o empresário tem que fazer a sua. Ouvimos muitas vezes que ninguém quer trabalhar, será? E as empresas que estão melhores do que outras do mesmo ramo, porque será? Não é sobre informalidade, é sobre mindset, liderança e gestão.

Leia o artigo integral na edição 831 do Expansão, de Sexta-feira, dia 20 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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