A ciência aplicada como motor da diversificação e soberania económica de Angola
A verdadeira diversificação da economia angolana passa, inevitavelmente, pelo fortalecimento da investigação científica, da inovação e da invenção. Nenhum país consegue reduzir a sua dependência de recursos naturais - como o petróleo - sem desenvolver competências tecnológicas sólidas. Sectores como as energias renováveis e nuclear, a biotecnologia, a indústria, os sistemas de saúde e a gestão ambiental dependem, cada vez mais, da aplicação directa da ciência
A ciência é o principal instrumento de desenvolvimento dos países no século XXI - e sempre esteve na base de todas as civilizações. Está na origem das inovações tecnológicas que impulsionam sectores estratégicos como a energia, a agricultura, a saúde, as telecomunicações, os transportes, o ambiente e a defesa. Investir no saber científico e na capacidade técnica nacional é hoje um imperativo para qualquer nação que pretenda garantir independência económica, soberania tecnológica e bem-estar sustentável para o seu povo.
Angola tem feito avanços importantes neste domínio. A aprovação da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e a integração de metas científicas no Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027 demonstram a visão do Executivo em alinhar o conhecimento com os objectivos económicos e sociais do país. No entanto, os desafios são muitos, e exigem a intensificação dos esforços.
A ciência e os grandes objectivos nacionais
A verdadeira diversificação da economia angolana passa, inevitavelmente, pelo fortalecimento da investigação científica, da inovação e da invenção. Nenhum país consegue reduzir a sua dependência de recursos naturais - como o petróleo - sem desenvolver competências tecnológicas sólidas. Sectores como as energias renováveis e nuclear, a biotecnologia, a indústria, os sistemas de saúde e a gestão ambiental dependem, cada vez mais, da aplicação directa da ciência.
De acordo com os dados disponíveis, o investimento de Angola em Investigação e Desenvolvimento (I&D) está muito aquém do mínimo recomendado de 1% do PIB.
Os últimos registos indicavam que, em 2016, este investimento representava apenas cerca de 0,03% do PIB e, actualmente, não há evidências de uma variação significativa. Este valor é insignificante quando comparado com os investimentos de outras nações africanas, segundo dados de 2022 do portal internacional TheGlobalEconomy: Egipto (1,02%), África do Sul (0,60%), República Democrática do Congo (0,41%), Burkina Faso (0,25%) e Mali (0,17%).
Portanto, apesar dos esforços já realizados, Angola ainda precisa aumentar substancialmente o seu investimento neste sector para alcançar um desenvolvimento sustentável e competitivo.
A Universidade Agostinho Neto e o potencial da juventude científica
A Universidade Agostinho Neto (UAN) é a maior instituição pública de ensino superior do país e tem desempenhado um papel central na formação de quadros em áreas estratégicas como Física Aplicada, Energias Renováveis, Engenharia, Geologia, Química, Matemática e Biotecnologia. O potencial dos angolanos é imenso. Com condições adequadas, esses profissionais podem liderar projectos de investigação com impacto directo na produtividade nacional.
O fortalecimento dos laboratórios, a renovação de equipamentos e o financiamento de bolsas de investigação constituem passos fundamentais para transformar a universidade num centro de soluções para os desafios nacionais.
Mas isso só será possível com uma articulação sólida entre o sector público e o sector privado. Com o devido apoio, esta geração pode posicionar Angola como referência africana em ciência aplicada e inovação tecnológica.
A Proposta: um Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência Aplicada
Em Angola, existe a FUNDECIT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), gerido pelo MESCTI, que financia programas como o PDCT (Programa de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia). Este programa foi criado pelo MESCTI com o objectivo de fortalecer a capacidade científica e tecnológica nacional, gerando impacto socioeconómico.
A FUNDECIT tem sido essencial para manter viva a investigação científica em Angola. No entanto, a sua acção continua insuficiente e dispersa para alcançar um objectivo nacional claro: transformar ciência em riqueza, empregos e diversifica ção económica. Isoladamente, a FUNDECIT não é capaz de fazer com que a ciência no país se integre de forma consistente ao sector produtivo, gerando inovação e oportunidades.
Leia o artigo integral na edição 846 do Expansão, sexta-feira, dia 03 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
*Osvaldo Agostinho de Almeida, Físico nuclear