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Opinião

A escola deve ser o pilar moral da sociedade

IDEIAS & VISÕES

A escola, a seguir à família, deve ser o pilar fundamental para a formação integral do indivíduo. Além de transmitir conhecimento, molda consciências e cultiva valores como respeito, responsabilidade e convivência em harmonia. A moral, quando trabalhada desde cedo, torna-se a base do carácter e da conduta ética.

O início do ano lectivo, como já se tornou habitual, volta a estar envolto em polémicas. As questões ligadas às inscrições, matrículas e exames de acesso já são corriqueiras, mas o que chama a atenção é a forma como, a cada ano, surgem novos episódios que expõem fragilidades no sistema de ensino.

Desta vez, a polémica gira em torno da expulsão de alunos e professores de um colégio por terem tocado e dançado Kuduro no recinto escolar. A decisão levanta várias questões: até que ponto uma manifestação cultural e artística deve ser punida de forma tão severa? Será que a escola não deveria ser também um espaço de expressão, diálogo e partilha de valores, em vez de apenas repressão e castigos exemplares, quando os factos estão consumados.

O problema evoluiu de tal forma que foi necessária a intervenção da Inspeção da Educação. De facto, vivemos uma crise de valores, e há angolanos que criticam duramente este momento que atravessamos. No entanto, quando é preciso tomar atitudes firmes e medidas severas, apelam imediatamente à clemência.

No essencial, o referido caso revela uma questão mais ampla: a dificuldade de conciliar expressão cultural com normas institucionais, liberdade individual com responsabilidade educativa.

O impasse persiste - e talvez o verdadeiro desafio consista em reavaliar a função da escola no desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens.

Angola enfrenta uma grave crise de valores, evidenciada pela fragilidade dos princípios éticos, cívicos e morais que sustentam a convivência social. Perante este cenário, torna-se imperativo promover o resgate desses pilares fundamentais para a construção de uma sociedade bem educada e equilibrada.

A pergunta que se impõe é: onde deve ter início o processo de reconstrução moral? Inevitavelmente, também no ambiente escolar. No caso em apreço, a medida adoptada pela instituição - uma escola privada -em conformidade com os seus regulamentos internos, suscitou ampla repercussão pública. Contudo, entre as diversas opiniões manifestadas, destaca-se um princípio inegociável: a primazia do cumprimento das normas estabelecidas.

Houve quem considerasse a expulsão dos envolvidos uma medida desproporcional, alegando que o estilo musical em questão já integra o património cultural nacional. Sinceramente, considero essa argumentação equivocada.

Embora já faça parte do nosso universo cultural, esse género musical caracteriza-se por letras obscenas, desprovidas de filtro ético, e danças com forte apelo sexual - elementos totalmente incompatíveis com o ambiente escolar e infantil. É preocupante que até pessoas supostamente instruídas defendam a normalização desse tipo de conteúdo em qualquer espaço, ignorando a necessidade de critérios e limites.

A escola, a seguir à família, deve ser o pilar fundamental para a formação integral do indivíduo. Além de transmitir conhecimento, molda consciências e cultiva valores como respeito, responsabilidade e convivência em harmonia. A moral, quando trabalhada desde cedo, torna-se a base do carácter e da conduta ética.

Cabe assim à escola promover preceitos e regras de conduta que se impõem à consciência de forma profunda, orientando o comportamento para além da lei - e até em oposição a ela, quando esta entra em conflito com valores éticos universais.

A moral, portanto, deve fundar- -se em princípios racionais e universais, cuja consolidação deve começar desde os primeiros anos de escolaridade, garantindo assim uma base sólida para cidadãos conscientes e responsáveis no futuro.

*Norberto Carlos, Docente Universitário

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