Coisas sérias
Mas nestas coisas dos prazos o País tem alguma dificuldade em acertar. Muitas vezes sem qualquer justificação que não seja a fraca capacidade de planeamento dos envolvidos e um enorme sentido de irresponsabilidade dos responsáveis.
No rescaldo da cimeira EUA-África fica uma exposição interessante do nosso País nos media internacionais, a possibilidade de reforçar as necessidades de investimento que o continente precisa junto da maior economia do planeta e uma obra "farónica" para a cidade que não terminou a tempo de receber o acontecimento, mas na verdade os hotéis para o CAN 2010 também só ficaram prontos uns anos depois.
O tal empreendimento hoteleiro e turístico que ia servir de base à cimeira, apesar dos milhões de dólares que foram gastos pelo erário público, esses é que verdadeiramente nos interessam, não se concluiu. Também não foi avançada uma nova data para finalizar a obra, da mesmo forma que não foi feito qualquer esclarecimento público nem responsabilizado quem quer que seja.
Mas nestas coisas dos prazos o País tem alguma dificuldade em acertar. Muitas vezes sem qualquer justificação que não seja a fraca capacidade de planeamento dos envolvidos e um enorme sentido de irresponsabilidade dos responsáveis. A este propósito, diga-se que se a refinaria de Cabinda não entrar em funcionamento até segunda-feira, dia 30, também falha pela sexta vez a data anunciada para a entrada em funcionamento da 1ª fase do projecto.
Recordar que a construção foi entregue por adjudicação ao grupo Gemcorp em Outubro de 2019, há quase seis anos e que normalmente uma refinaria modular com estas características tem uma fase implantação nunca superior a três anos. Mas podemos juntar a este outros projectos estruturantes que foram anunciados e nunca arrancaram, outros que eram assumidamente importantes e continuam em construção, e outros que pura e simplesmente pararam e ninguém sabe muito bem o que se vai fazer deles.
O caso mais emblemático são os edifícios do Kinaxixi que se mantém com o mesmo aspecto há 10 anos, apesar de o largo ter recebido recentemente um projecto de modernização. No entanto, todos os dias o Diário da República informa que foram aprovados financiamentos para novas obras, algumas delas em repetição e sem que se assuma a necessidade de terminar o que já foi iniciado. Ou que se decida de forma simples, demolir e fazer outra coisa. É esta forma de gestão que verdadeiramente assusta os bons investidores internacionais.
Tivemos várias conversas com empresários estrangeiros que vieram a Luanda, e as perguntas centram-se quase todas sobre o ambiente de negócios, a gestão despesista do Estado, que passa o tempo todo a tentar novos financiamentos externos mas que mantém uma postura de luxo e abastança nas suas actividades, a presença excessiva do Estado na economia, a protecção dos empresários do regime, a concorrências desleal, as dúvidas sobre o funcionamento da Justiça e a relação estranha com as instituições públicas. No rescaldo desta cimeira, era sobre isto que nos devíamos debruçar. Arranjar mecanismos para recuperar a credibilidade e a confiança. E já agora, mecanismos para que a população pudesse viver um pouco melhor.