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Opinião

Crescimento económico Capital humano, produtividade e emprego

CONVIDADO

É importante repensar o modelo de desenvolvimento, colocando as pessoas no centro das deci sões económicas, promovendo a educação de qualidade, a inclusão social e a criação de empre gos dignos para todos.

Uma componente essencial para o crescimento económico reconhecida a nível da teoria de desenvolvimento económico, é o capital humano. A interligação entre as duas variáveis pressupõe que o progresso de uma nação não dependa apenas de infraestruturas adequadas (capital físico), mas também, da qualidade de vida das pessoas (refira-se em educação) e de competências ou capacidades, que assumem um papel crucial no aumento da produtividade e na criação de empregos dignos.

O crescimento económico de Angola atravessa uma encruzilhada decisiva. Não bastam sinais de recuperação económica ou de expansão sectorial da produção interna, mas que se actue sobre o motor de desenvolvimento sustentável, que reside no capital humano.

Deste modo, propomos olhar para o desempenho da economia de Angola à luz destas três dimensões: capital humano, produtividade e emprego. À abertura da discussão, indagámos: Como a falta de investimento estratégico em capital humano afecta a competitividade do país? Que papel pode a inclusão digital e financeira desempenhar? Como transformar o potencial da população economicamente activa em progresso? O desafio deixado em aberto ... é repensar o país colocando as pessoas no centro das decisões económicas.

Enquadramento económico e regional

Sob a perspectiva da União Africana, em parceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), aludindo ao relatório "Africa"s Development Dynamics - Skills, Jobs and Productivity (Jul.,2024)", os países de África enfrentam duplo desafio: falta de competências específicas no mercado de trabalho e pouca oferta de empregos. Dá-se ênfase que o gasto público em educação, medido em percentagem (%) do Produto Interno Bruto (PIB) e da despesa total, permanece reduzido quando comparado a outras regiões do mundo. Aponta- -se, também, que o défice de investimento em educação e competências limita o crescimento inclusivo e sustentável.

As recomendações em termos de políticas económicas emergem para as seguintes medidas:

1.Desenvolver estratégias de competências em sectores com elevada produtividade - isto é, identificar sectores com vantagens comparativas alinhadas à transição demográfica, digital e ecológica.

2.Expandir o ensino de qualidade a preços acessíveis.

3.Desenvolver modelos inovadores de formação que alcance trabalhadores do mercado informal.

4.Actualizar os programas de formação técnico-profissional de modo a capacitar o público alvo com competências que assegurem percursos profissionais promissores.

5.Implementar políticas integradas de desenvolvimento de competências que impulsionem cadeias globais de valor.

Como a falta de investimento estratégico em capital humano afecta a competitividade de Angola?

Neste quesito, a fundamentação estatística é bastante esclarecedora. Segundo o Human Capital Index (2024) do Word Bank Group coloca Angola na «cauda» quando se refere ao índice de Capital Humano, apontando para um indicador mais baixo a nível mundial (Human Capital Index - HCI 0,36), revela que em cada criança nascida em Angola, só será 36% tão produtiva quanto poderia ser com saúde e educação plenas.

Além disso, a escassez de competências técnicas e transversais adequadas às necessidades do mercado de trabalho resulta em baixa produtividade. Portanto, facilmente depreende-se que a falta de investimento estratégico em educação, saúde e capacitação, limita severamente a eficiência do capital humano, reduz a atractividade para investidores nacionais e internacionais e compromete a capacidade de Angola competir no cenário regional e global.

Que papel pode a inclusão digital e financeira desempenhar?

A inclusão digital e financeira é fundamental para o crescimento sustentável. O Word Bank Group - in "Digital Economy for Africa Initiative" (2023) evidencia que a inclusão digital é um motor de criação de empregos, empreendedorismo e acesso a educação, especialmente para os jovens. Enquanto que a OCDE (2024) destaca que a inclusão digital pode aumentar a produtividade até 25% em sectores informais, ao permitir o uso de plataformas, internet banking e serviços públicos online.

Por outro lado, salienta-se, que em Angola, apenas cerca de 30% da população tem acesso regular a internet, e a inclusão financeira é baixa, ou seja, menos de 50% da população adulta tem conta bancária (WBG, Findex 2022). Desmistificando, a inclusão digital e financeira pode alavancar o acesso ao conhecimento, dinamizar o empreendedorismo e ampliar o acesso ao crédito, reduzindo desigualdades e estimulando a criação de empregos formais. Como transformar o potencial da população economicamente activa em progresso?

Transformar o potencial jovem em progresso pressupõe o alinhamento de políticas de formação e de capacitação às necessidades do mercado e à criação de valor agregado ao país. Estima-se que a região da África Subsariana terá mais de 50% da população com menos de 25 anos até 2030 (ONU, 2024).

O Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB, 2025) alerta que a falta de capacitação e de oportunidades transforma esse potencial em risco - o chamado "dividendo demográfico perdido".

*João Machado, Economista

Leia o artigo integral na edição 856 do Expansão, sexta-feira, dia 12 de Dezembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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