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Opinião

Empresas inteligentes, organizações invisíveis: O futuro das consultorias de gestão é a hiperautomação?

CONVIDADO

É importante sublinhar que a hiperautomação não deve ser vista como um fim em si mesma, mas sim como um meio para atingir objetivos estratégicos de negócio. O sucesso depende da capacidade de alinhar tecnologia e estratégia, envolver as pessoas no processo de transformação e criar mecanismos de monitorização e avaliação contínua dos resultados alcançados.

A paisagem empresarial mundial está a passar por uma transformação profunda, impulsionada pelo avanço da hiperautomação e pela integração crescente de tecnologias digitais de ponta. Em Angola, apesar de a digitalização ainda enfrentar vários desafios estruturais, o tema começa a ganhar destaque entre gestores e consultores atentos às tendências globais.

A hiperautomação, que consiste na automação intensiva de processos através da combinação de inteligência artificial, machine learning, robótica e análise avançada de dados, promete não só aumentar a eficiência operacional, mas também criar organizações onde a intervenção humana é mínima e, muitas vezes, quase invisível. Este novo cenário coloca a consultoria de negócios angolana perante uma escolha: continuar a atuar como analista tradicional ou assumir o papel de arquiteto de ecossistemas inteligentes e automatizados.

A hiperautomação vai muito além da simples digitalização de tarefas rotineiras. Trata-se de uma abordagem abrangente, que procura redesenhar processos, integrar sistemas e criar fluxos de trabalho totalmente automatizados, onde diferentes tecnologias comunicam entre si, aprendem com os dados recolhidos e ajustam operações em tempo real. No setor bancário, por exemplo, já é comum o uso de chatbots e robôs de software (RPA) para processar milhares de operações e interagir com clientes sem necessidade de intervenção humana direta. Estes sistemas aceleram o atendimento e reduzem drasticamente o erro humano e os custos operacionais. Na agricultura, sensores inteligentes, drones e plataformas de gestão, como o SIRIS, permitem monitorizar plantações, automatizar a irrigação, prever riscos climáticos e otimizar colheitas, tudo com base em dados recolhidos e analisados em tempo real. No setor logístico, a automação de armazéns, o rastreamento inteligente de mercadorias e a gestão preditiva de frotas estão a revolucionar as cadeias de abastecimento, tornando- -as mais resilientes e eficientes.

Neste novo contexto, a consultoria deixa de ser apenas fornecedora de diagnósticos e recomendações, para se tornar uma parceira estratégica no desenho, implementação e manutenção de arquiteturas digitais complexas. O consultor moderno tem de dominar metodologias de mapeamento e reengenharia de processos, conhecer bem as ferramentas de automação disponíveis no mercado, entender os princípios da inteligência artificial e ser capaz de gerir projetos multidisciplinares que envolvem desde engenheiros de software a especialistas em cibersegurança. Mais do que nunca, o sucesso da consultoria depende da sua capacidade de integrar tecnologia, pessoas e processos de forma harmoniosa e orientada para resultados concretos.

No entanto, a transição para organizações hiperautomatizadas não está isenta de riscos e desafios. O primeiro grande desafio é o impacto sobre o emprego. A automação de tarefas repetitivas e administrativas pode levar à redução de postos de trabalho em setores tradicionais, exigindo políticas activas de requalificação e reconversão profissional, para evitar o aumento do desemprego tecnológico. Por outro lado, a hiperautomação também cria novas oportunidades de trabalho em áreas como desenvolvimento de software, análise de dados, manutenção de sistemas inteligentes e gestão de projetos digitais. É fundamental que as empresas e o Estado invistam em formação e capacitação, preparando a força de trabalho nacional para as exigências da economia digital.

Outro desafio importante está relacionado com a segurança da informação e a proteção de dados. À medida que as organizações se tornam mais dependentes de sistemas automatizados, aumentam também os riscos associados a ciberataques, falhas técnicas e violações de privacidade. A consultoria, neste domínio, tem um papel essencial na definição de políticas de segurança, na implementação de sistemas de monitorização e resposta a incidentes, bem como na promoção de uma cultura organizacional voltada para a gestão de riscos digitais. Além disso, a dependência de fornecedores tecnológicos externos pode criar vulnerabilidades estratégicas, tornando fundamental a escolha criteriosa de parceiros e a diversificação de soluções tecnológicas.

Apesar destes desafios, a hiperautomação representa uma oportunidade única para Angola acelerar o seu desenvolvimento económico, aumentar a produtividade e criar um novo ecossistema de inovação. Ao automatizar processos críticos, as empresas podem libertar recursos para actividades de maior valor acrescentado, reduzir custos operacionais e melhorar a qualidade dos seus produtos e serviços. A consultoria desempenha aqui um papel central, quer como agente de mudança, quer como catalisadora de uma nova cultura organizacional, baseada na experimentação, na aprendizagem contínua e na adaptação rápida às mudanças do mercado.

É importante sublinhar que a hiperautomação não deve ser vista como um fim em si mesma, mas sim como um meio para atingir objetivos estratégicos de negócio. O sucesso depende da capacidade de alinhar tecnologia e estratégia, envolver as pessoas no processo de transformação e criar mecanismos de monitorização e avaliação contínua dos resultados alcançados.

Leia o artigo integral na edição 845 do Expansão, de Sexta-feira, dia 26 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

*Sandra Camelo, COO, TIS

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