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Opinião

O papel dos bancos no financiamento da economia angolana

CONVIDADO

Para além do crédito, a banca tem investido em programas de literacia financeira. Formações presenciais em línguas nacionais, programas radiofónicos e sessões comunitárias têm ajudado a melhorar a gestão doméstica do rendimento e a fomentar o uso responsável dos produtos financeiros. Estas iniciativas são fundamentais para consolidar uma cultura financeira inclusiva e sustentável.

O financiamento como motor da economia

O financiamento bancário é um pilar essencial do crescimento económico e da diversificação produtiva de qualquer país. Em economias emergentes como a angolana, com elevadas carências em infra-estruturas, capital humano e sectores produtivos, o sistema bancário desempenha um papel crucial.

Enquanto intermediários financeiros, os bancos têm a capacidade de mobilizar a poupança interna e convertê-la em crédito, canalizando recursos para actividades geradoras de valor e emprego.

Um país com potencial, mas ainda com obstáculos

Angola enfrenta desafios estruturais persistentes de natureza económica e social. Apesar disso, nota-se uma crescente vitalidade, criatividade e resiliência por parte da sociedade e do tecido empresarial.

Os bancos têm a oportunidade - e a responsabilidade - de ir além do seu papel tradicional. Ao financiar projectos produtivos e sectores estratégicos, contribuem para dinamizar a economia, fomentar o emprego e equilibrar a balança comercial.

Casos internacionais que servem de referência

A experiência internacional mostra como o financiamento à economia, quando orientado estrategicamente através do sistema bancário, pode transformar profundamente a trajectória de desenvolvimento de um país. O Brasil reforçou a sua base exportadora com o financiamento de projectos estruturantes na agro- -indústria e na energia, promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES).

Na Malásia, o apoio bancário a pequenas e médias empresas industriais contribuiu para diversificar a estrutura económica e consolidar uma base produtiva voltada para os mercados externos.

O Ruanda demonstrou como o acesso ao crédito, especialmente em zonas rurais, pode promover a inclusão financeira e dinamizar economias locais.

A Coreia do Sul recorreu ao sistema bancário como instrumento da sua política industrial, canalizando financiamento para sectores como o aço, a construção naval e a electrónica, acelerando assim o seu processo de industrialização.

No México, instituições como a Nacional Financeira (NAFIN) utilizaram o crédito como alavanca para projectos de infra-estruturas e apoio às exportações, reforçando a competitividade da economia nacional.

Em Angola, o crédito já mostra impacto

Em Angola, o crédito começa a revelar o seu verdadeiro potencial quando chega onde mais importa: aos sectores que movem a economia real.

Na agricultura, significa mais do que produção - é capacidade de investir, de empregar vizinhos, de garantir alimento nos mercados locais.

Nos serviços e na indústria transformadora, representa a possibilidade de um negócio sair da sombra da informalidade, crescer, gerar impostos e transformar-se num motor de desenvolvimento.

Cada kwanza bem direccionado pode ser o ponto de partida para uma cadeia de valor que gera trabalho, dignidade e futuro. O crédito, quando chega ao sítio certo, muda vidas - e muda o país.

Inclusão financeira em expansão

Nos últimos anos, os bancos comerciais têm procurado adaptar os seus serviços à realidade nacional.

Foram implementadas contas simplificadas com requisitos reduzidos, criadas linhas de microcrédito para o comércio informal e a agricultura familiar, e desenvolvidos canais alternativos, como agências móveis e plataformas digitais compatíveis com telemóveis de gama básica.

Segundo dados do Banco Nacional de Angola (BNA), entre 2022 e 2024 abriram-se mais de 1,5 milhões de novas contas. Só em 2023, foram concedidos mais de 70 mil microcréditos, com forte incidência em zonas periurbanas e rurais.

Em províncias como a Lunda Sul, o Cuando Cubango ou o Bié, a banca tem recorrido a soluções como agentes comunitários, kits de serviços móveis e redes partilhadas de POS, que permitem realizar transferências e pagamentos em zonas sem infra- -estruturas bancárias formais. Estas acções não apenas aproximam a banca do cidadão, como reforçam a segurança das transacções e reduzem os custos operacionais.

Literacia e capacitação: pilares do progresso

Para além do crédito, a banca tem investido em programas de literacia financeira. Formações presenciais em línguas nacionais, programas radiofónicos e sessões comunitárias têm ajudado a melhorar a gestão doméstica do rendimento e a fomentar o uso responsável dos produtos financeiros. Estas iniciativas são fundamentais para consolidar uma cultura financeira inclusiva e sustentável.

Leia o artigo integral na edição 833 do Expansão, de Sexta-feira, dia 04 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

*Ricardo Vinagre, Partner da EY

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