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Opinião

Produtividade: A base invisível para atrair e reter Investimento Direto Estrangeiro

CHANCELA DO CINVESTEC

Não basta atrair investimentos, é preciso depois garantir as condições para que os mesmos permaneçam por muitos anos e, o mais importante, expandam-se. Isso só será possível se os países, incluindo Angola, fizerem bem o trabalho de casa: reduzir a burocracia e a lentidão dos serviços públicos, melhorar e expandir as vias de acesso que ligam as zonas de produção aos centros de consumo, estabilizar a moeda, tornar célere e barato o processo de titularização da propriedade, criar incentivos que visem reduzir a informalidade e, não menos importante, combater a corrupção.

Teve lugar na semana de 22 a 25 de junho, em Luanda, a cimeira EUA-África, um evento que reuniu cerca de 1.500 personalidades, entre chefes de Estado africanos, empresários, representantes do governo americano, entre outros. O objetivo? Atrair capital americano para diversas regiões do continente e reforçar os (ainda) poucos investimentos americanos existentes em África - que representam cerca de 1% do total, contra 59% na Europa e 19% no Caribe, de acordo com dados da UNCTAD.

O primeiro passo está dado: o encontro e as conversas para aferir as intenções de investimento. Estamos, portanto, na fase da "sedução" - o momento em que cada país africano apresenta ao empresariado americano as suas potencialidades e vantagens comparativas. É nesta fase que a cimeira se transforma numa espécie de competição entre os melhores ambientes de negócios do continente. Porque, dadas as mesmas condições naturais (abundância de recursos minerais, água, bom clima, população jovem, terra fértil e abundante), o investimento americano tenderá a fluir para os países que apresentarem o melhor ambiente de negócios, com destaque para: estabilidade política, estabilidade macroeconómica, eficiência administrativa e segurança jurídica.

Todos esses elementos, que ao reduzirem o custo de contexto tornam a economia mais atractiva ao investimento, estão fortemente condicionados pelo grau de preparação técnico-científica de cada nação, ou seja, ao quanto cada país investe com qualidade na educação.

Em Abril deste ano, o Banco Mundial apresentou o relatório Africa"s Pulse, onde podemos ler que a África Subsariana apresenta a menor taxa de participação no ensino superior a nível mundial e um índice de capital humano de 0,4. Isto significa que uma criança nascida hoje na África Subsariana poderá alcançar no futuro apenas 40% do seu potencial de produtividade.

É aqui que entra o conceito de produtividade, entendido como a quantidade de bens e serviços produzidos por unidade de trabalho ou recurso. Paul Krugman sintetiza bem: "A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. A capacidade de um país melhorar o seu padrão de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente da sua capacidade de aumentar a produtividade."

Sem grandes investimentos em educação não há produtividade e, consequentemente, não há eficiência nem competitividade - o que perpetua os baixos salários e a pobreza. Hoje, dado o avanço científico alcançado por alguns países, as vantagens comparativas são criadas, já não dependem apenas de factores naturais. Por exemplo, países com pouca extensão de terra são autossuficientes e até exportam produtos agrícolas, enquanto aqueles com grandes extensões de terras aráveis tornaram-se importadores desses mesmos produtos. A explicação para este aparente paradoxo está no avanço científico, resultante de anos de investimento em educação e pesquisa.

Na agricultura moderna, o factor determinante já não é a quantidade de terra disponível, mas sim a produtividade por hectare - e esta depende da tecnologia agrícola (sementes melhoradas, correcção do solo, fertilizantes e pesticidas de qualidade, conhecimento das técnicas de aplicação, etc). É o investimento, incluindo em educação e pesquisa, que, ao gerar ganhos de produtividade, é determinante para a criação de vantagens comparativas, e não os recursos naturais.

Não basta atrair investimentos, é preciso depois garantir as condições para que os mesmos permaneçam por muitos anos e, o mais importante, expandam-se. Isso só será possível se os países, incluindo Angola, fizerem bem o trabalho de casa: reduzir a burocracia e a lentidão dos serviços públicos, melhorar e expandir as vias de acesso que ligam as zonas de produção aos centros de consumo, estabilizar a moeda, tornar célere e barato o processo de titularização da propriedade, criar incentivos que visem reduzir a informalidade e, não menos importante, combater a corrupção.

Em suma, não há milagre nem solução mágica. Para atrair investimento estrangeiro sustentável, é preciso muito mais do que participar em cimeiras e mostrar recursos naturais. É preciso investir seriamente na formação do capital humano, melhorar a produtividade, e criar um ambiente institucional e económico que garanta retorno, confiança e permanência ao capital que nos procura. Porque quem quer reter investimento, precisa primeiro de ser capaz de o merecer.

*Bernardo Vaz, Economista

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