Trump devia consultar Nash - O Equilíbrio de Nash e a Teoria dos Jogos na Política Internacional de Donald Trump
O Equilíbrio de Nash descreve uma situação em que, dado o conjunto de estratégias adotadas pelos participantes, nenhum deles tem incentivo para alterar a sua decisão de forma unilateral. Aplicado à política externa de Trump, isso é evidente na sua abordagem de "America First", que impõe tarifas de importação e sanções com o objetivo de maximizar o benefício económico dos Estados Unidos.
Tornou-se normal acordar e deparar-se com uma notícia bombástica que impacta o mundo, vinda do mergulhar da caneta de Donald Trump(1), desde tarifas sobre importações do Canadá, México e China(2), criação do Departamento de Eficiência Governamental(3), retirada do Conselho de Direitos Humanos da ONU(4), até ao congelamento de Fundos para a UNRWA. A política internacional contemporânea, marcada por decisões estratégicas que afectam economias globais, pode ser analisada de forma elucidativa através da Teoria dos Jogos, em especial pelo conceito do Equilíbrio de Nash.
As acções do Presidente Donald Trump, sobretudo no contexto da guerra comercial com a China e na imposição de sanções a diversos países, representam um cenário clássico de jogos de soma não nula, onde as decisões de um ator influenciam diretamente as escolhas dos outros.
O Equilíbrio de Nash descreve uma situação em que, dado o conjunto de estratégias adotadas pelos participantes, nenhum deles tem incentivo para alterar a sua decisão de forma unilateral. Aplicado à política externa de Trump, isso é evidente na sua abordagem de "America First", que impõe tarifas de importação e sanções com o objetivo de maximizar o benefício económico dos Estados Unidos.
No entanto, essa estratégia frequentemente leva a retaliações, criando um ciclo de ações e reações que estabilizam num equilíbrio, ainda que abaixo do ideal para ambos os lados. Por exemplo, a guerra comercial entre os EUA e a China (2018-2020) resultou em tarifas sobre mais de 360 mil milhões USD em bens chineses e cerca de 110 mil milhões USD em produtos americanos. Em resposta, a China diversificou os seus parceiros comerciais e investiu em autossuficiência tecnológica.
O impacto foi bilateral: as exportações dos EUA para a China caíram de 120 mil milhões USD em 2018 para 106 mil milhões USD em 2020(5), enquanto as importações da China também diminuíram, prejudicando setores agrícolas e industriais americanos, o clássico "quem com ferro me fere, com ferro o firo". Além disso, as sanções impostas a países, como o Irão e a Rússia, criaram novos blocos de cooperação económica, como o fortaleci mento da aliança entre Moscovo e Pequim.
O volume de comércio entre a China e Rússia, por exemplo, atingiu um recorde de 190 mil milhões USD em 2022, demonstrando como a política de sanções dos EUA impulsionou realinhamentos estratégicos globais.
Embora a curto prazo possa ter apresentado ganhos estratégicos para os EUA, as consequências a longo prazo podem ser profundamente negativas, com efeitos colaterais que ameaçam a própria hegemonia económica e política americana. Por exemplo, o uso excessivo de sanções e tarifas pode acelerar o processo de desdolarização da economia global. Países afetados pelas políticas de Trump, como China e Rússia, já cogitam o uso de moedas alternativas ao dólar em transações internacionais.
O avanço de acordos bilaterais em moedas locais, especialmente na Ásia e na África, reduz a demanda global pelo dólar, o que pode minar o seu status como moeda de reserva mundial. Isso enfraqueceria a capacidade dos EUA de financiar o seu déficit fiscal a custos baixos, aumentando o risco de crises de dívida no futuro.
Leia o artigo integral na edição 814 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
Moisés Cambundo, Gestor financeiro e investigador