Um novo capítulo nas relações entre o Reino Unido–Angola
Uma das minhas principais prioridades é apoiar Angola na reformulação da sua narrativa de investimento, especialmente em torno do custo de capital do País e da trajectória de reformas. Quero criar plataformas onde Angola possa apresentar o seu progresso e as suas prioridades, e onde possamos trabalhar juntos para desbloquear a confiança dos investidores e o financiamento competitivo
Maharishi Mahesh Yogi, o falecido guru dos Beatles e dos Beach Boys, disse que "boa sorte e boa hora são a mesma coisa". Acredito que me tornei Embaixador exactamente no momento certo, enquanto Angola se liberta de um passado recente desafiador, caracterizado por uma elevada dívida internacional, muitas vezes colateralizada no petróleo; inflação persistente, impulsionada por altas importações e uma moeda em desvalorização; e uma dependência da economia informal.
Entretanto, ao viajar por Angola, vejo um novo país emergindo. Uma Angola onde a agricultura prospera em terras férteis e cada vez mais desminadas, e cadeias de abastecimento locais começam a substituir as importações. Uma Angola onde o sector crítico de petróleo e gás se transforma e promove insumos locais. Uma Angola bela, que se torna cada vez mais acessível para os turistas.
A relação do Reino Unido com Angola também está evoluindo. Vejo Angola como um parceiro estratégico regional. Nossos laços bilaterais aprofundaram-se, indo além de áreas tradicionais como a desminação e o sector empresarial britânico, rumo à uma parceria mais dinâmica.
O Reino Unido é agora o maior credor de Angola, fundamentalmente devido à emissão de Eurobonds na Bolsa de Valores de Londres (London Stock Exchange). Queremos continuar a apoiar Angola no acesso ao financiamento com uma avaliação de risco, que reconheça os difíceis passos que o país deu para gerir a sua economia e cumprir as suas obrigações financeiras, sem nunca entrar em incumprimento. Isso é uma conquista extraordinária.
O acesso a capital é essencial para a realização de projectos transformadores e para a contínua reconstrução do País. O Reino Unido oferece a Angola uma porta estratégica para o capital global. Com a profundidade e credibilidade da Bolsa de Valores de Londres, Angola pode acessar a financiamentos de modo mais competitivo e a uma ampla base de investidores.
Um dos pilares mais significativos dessa parceria (Angola e Reino Unido) é o papel da Agência de Exportação ao Crédito do Reino Unido (UKEF) no apoio às ambições de infraestrutura de Angola. Por meio de garantias e financiamento para projectos nos sectores de energia, transporte e saúde, a UKEF disponibilizou uma linha de crédito em garantias de investimento para Angola, reforçando o comércio, apoiando a resiliência climática e alinhando-se à agenda de reformas do País.
Uma das minhas principais prioridades é apoiar Angola na reformulação da sua narrativa de investimento, especialmente em torno do custo de capital do País e da trajectória de reformas. Quero criar plataformas onde Angola possa apresentar o seu progresso e as suas prioridades, e onde possamos trabalhar juntos para desbloquear a confiança dos investidores e o financiamento competitivo. Isso faz parte do nosso trabalho mais amplo para apoiar Angola na transição de um modelo estatal, dependente do petróleo, para um sistema diversificado e orientado para o mercado, que atraia investimento nacional e internacional.
No dia 16 de setembro, realizaremos uma mesa redonda sobre IPOs (Ofertas Públicas Iniciais) com a Bolsa de Valores de Londres e o Standard Bank de Londres. Com o tema, "Capital com Propósito: IPOs como Pontes para a Emancipação Econômica de Angola", explorará como o País pode usar IPOs como uma ferramenta estratégica para abrir e diversificar a sua economia, apoiando Empresas Estatais Angolanas (SOEs) e empresas privadas a listarem-se na Bolsa de Valores de Londres, dando-lhes acesso à capital com taxas competitivas e ajudando a impulsionar a transição para uma economia liderada pelo sector privado.
Na mesma semana, com o Ministério do Planeamento de Angola e a DLA Piper, uma consultora britânica, partilharemos a nossa profunda experiência em PPPs (Parcerias Público-Privadas) com os formuladores de políticas angolanos. Treinaremos mais de 50 funcionários públicos angolanos em PPPs, outra ferramenta essencial de financiamento que ajudará a desbloquear novos modelos de financiamento para projectos de infraestruturas críticas.
O Reino Unido está pronto para ser um parceiro de longo prazo, não apenas em finanças, mas também em ideias, inovação e investimento.
Juntos, o Reino Unido e Angola, podem traçar um caminho ousado, definido não pelo peso da História, mas pela promessa de prosperidade compartilhada, inovação e uma parceria duradoura.
Edição 842 do Expansão, de Sexta-feira, dia 05 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
*Bharat Joshi, Embaixador do Reino Unido em Angola