Inovação agrícola de Marrocos para a Europa
Com raízes profundas em Marrocos e África Ocidental, o grupo suíço Éléphant Vert criou o maior pólo industrial de inovação ecológica do continente. Agora a empresa está de olho no mercado europeu.
Comprometer-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) significa comprometer-se a limitar o uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura. O motivo? Esses fertilizantes aumentam fortemente os níveis de emissões de GEE do solo e, portanto, contribuem para as mudanças climáticas. Entre eles, há um que raramente é mencionado: o óxido nitroso (N2O). De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o N2O é o terceiro gás de efeito estufa mais lançado na atmosfera. Tem um potencial de aquecimento global 300 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2). E resulta de actividades agrícolas - da combustão de biomassa e de produtos químicos, como o ácido nítrico.
Para aumentar a complexidade do problema, o óxido nitroso - que representa mais de 70% das emissões globais de GEE da agricultura - permanece na atmosfera durante cerca de 120 anos. Um número crescente de agentes no sector agrícola está, portanto, a recorrer a soluções alternativas, como adubos orgânicos, para reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados. Um deles é o grupo suíço Éléphant Vert, criado pela Fundação Antenna Technologies, onde os negócios estão a florescer. O grupo encontrou o seu nicho de mercado com a produção de adubos, fertilizantes e pesticidas ecológicos, que são orgânicos e lucrativos, e derivados de microrganismos naturais.
A Éléphant Vert começou oficialmente em Marrocos, onde abriu a sua primeira subsidiária há sete anos. Desde então tornou-se o maior centro industrial de inovações ecológicas de África. Os seus primeiros grandes investimentos industriais foram feitos neste país, com a abertura de duas fábricas; uma especializada na produção de microrganismos, pesticidas e fertilizantes ecológicos; e a outra dedicada aos adubos ecológicos concebidos para processamento e reciclagem de subprodutos agrícolas.
A fim de promover e garantir um acesso mais amplo aos métodos agrícolas da Éléphant Vert, o grupo inaugurou a sua Clínica de Plantas (Clinique des plantes, CDP), um centro de ensino em Meknès, em 2014. Por meio da CDP, a Éléphant Vert treinou milhares de agricultores marroquinos, tanto em nome dos clientes da empresa como através de missões de apoio às organizações agrícolas públicas. Recentemente, a CDP adquiriu um laboratório de análise e controlo de qualidade, que foi credenciado pelo Ministério da Agricultura de Marrocos.
Através da diversificação dos seus negócios, a Éléphant Vert desenvolveu uma abordagem que abrange todas as etapas da cadeia agrícola. "Temos a capacidade de realizar análises ambientais e de solo, desenvolver programas customizados de fertilização sustentável, facilitar o estabelecimento de culturas com base na adubação orgânica e, é claro, apoiar o agricultor durante todo o ciclo de produção através da fertirrigação [uma técnica de fertilização que usa irrigação] e do controlo biológico de pragas", diz Anouar Alasri, director executivo da subsidiária marroquina da Éléphant Vert.
O grupo consolidou a sua posição no continente africano através da abertura de quatro subsidiárias em África Ocidental. Elas estão localizadas no Mali, um país que optou por subsidiar adubos e pesticidas ecológicos; no Senegal, onde a subsidiária vem crescendo comercialmente nos últimos dois anos; na Costa do Marfim, através da aquisição de uma empresa local que fabrica adubos ecológicos; e no Quénia, através da empresa Kenya Biologics Limited, especializada em controlo biológico. A abertura noutros países está a ser examinada. Tendo alcançado a velocidade de cruzeiro em termos de expansão em África, a Éléphant Vert procura agora marcar presença na Europa, através da aquisição de pequenas e médias empresas inovadoras, como a Or Brun e a Xurian Environnement, em França.
"A expansão europeia vai ajudar a fortalecer as subsidiárias africanas, já que a nossa rede territorial integrada garantirá uma complementaridade singular em especialistas, tanto em pesquisa e desenvolvimento quanto em termos de geração de produtos adaptados aos contextos de cada país", diz Alasri. Esta promissora abordagem transcultural é motivada pela necessidade urgente de uma mudança nas práticas agrícolas.
A Éléphant Vert também estabeleceu laços com instituições de pesquisa, nomeadamente o Instituto Nacional Francês de Pesquisa Agrícola (INRA). O instituto acaba de lançar um novo programa de pesquisa para examinar a dinâmica de nitrogénio e carbono em solos marroquinos, após terem sofrido aplicações bem- -sucedidas de nutrientes orgânicos (húmus e outros adubos feitos a partir de resíduos orgânicos). O estudo está preocupado sobretudo com os GEEs, nomeadamente CO2, N2O e metano.
"O foco está no solo, que é a base da agricultura, e cuja fertilidade é uma enorme causa de preocupação. Se ainda conseguirmos produzir, mesmo com a intensificação da agricultura, é porque ainda estamos extrapolando a exploração do solo de uma forma não sustentável", diz Khalid Azim, especialista em agricultura orgânica e compostagem e pesquisador do INRA, em Agadir.
Por exemplo, na Europa, o solo com menos de 3% de matéria orgânica é considerado um solo de baixa fertilidade. No entanto, o nível registado pelos pesquisadores marroquinos está à volta dos 0,4% de matéria orgânica. Como a demanda daqueles que trabalham no sector orgânico está a aumentar constantemente, agora é a hora de concentrar esforços na inovação para melhorar a qualidade do solo.
(artigo publicado na edição 503 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Dezembro de 2018, disponível em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)
Nota: Pelo segundo ano, o Expansão integra o projecto Solutions&Co que, este ano, arrancou a 3 de Dezembro, data de início da COP 24, Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Durante várias semanas, divulgamos projectos empresariais amigos do ambiente de vários países.
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