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Empresas impulsionam reflorestamento da Amazónia

BRASIL

O Brasil espera restaurar 12 milhões de hectares de árvores até 2030, num esforço para fazer frente ao aquecimento global. Empresas e iniciativas sociais somam forças para responder ao desafio.

Na fazenda Vera Cruz do Xingu, comprada pelo avô há 30 anos com generosos 44 mil hectares em Canarana (no Estado de Mato Grosso), o produtor rural Henrique Carneiro vê-se hoje empenhado na tarefa de plantar árvores para proteger a água no meio da soja, milho, algodão e grandes extensões de pastagens. Mais de um terço da propriedade já teve a floresta natural derrubada ao longo do tempo e agora, em parceria com o Instituto Socioambiental, a estratégia é encontrar meios viáveis para recuperar, pelo menos, uma parte do estrago naquele pedaço da Amazónia.

Até ao momento foram espalhadas 12,2 mil sementes de 67 espécies nativas, das quais 40% vingaram: "É um trabalho de formiga que começa a envolver fazendeiros vizinhos", diz Carneiro.

O Brasil assumiu no Acordo de Paris o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de árvores até 2030 como principal contribuição para o esforço global de mitigação. O desafio é enorme. O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), anunciado em Novembro de 2017, prevê a plantação de 390 mil hectares de mata no país em quatro anos.

Na Amazónia, a busca por soluções tem mobilizado acções no sentido de unir o factor económico ao ambiental e ao social.

Na Aliança pela Restauração na Amazónia - pacto com mais de 50 organizações da sociedade civil, governo, institutos de pesquisa e empresas - o objectivo é plantar 73 milhões de árvores em 300 mil hectares nesta que se considera a maior iniciativa global de reflorestamento.

"É chave reduzir custos da reposição de floresta e sair dos projectos pontuais para uma maior escala com oportunidades de renda", aponta Rodrigo Medeiros, vice-presidente de parcerias estratégicas da Conservação Internacional (CI) uma das ONGs participantes.

O engajamento do Rock in Rio, evento musical de grande porte que compensa a pegada ecológica com a plantação de floresta na Amazónia, ajuda a multiplicar a mensagem. A expectativa é de novos recursos, entre os quais 200 milhões de reais (53,7 milhões USD) do Fundo Amazónia, mantido por doações da Noruega, com a visão de unir o reflorestamento ao interesse comercial. "O ganho de renda com a floresta em pé evita a volta dos antigos números da sua destruição por actividades predatórias", reforça Medeiros.

O risco preocupa, porque os actuais números do desmatamento seguem na contramão do esforço de restauração. De acordo com dados do Instituto Imazon, o derrube da floresta aumentou 40% entre Agosto de 2017 e Julho de 2018. Em 12 meses, foram perdidos 300 mil hectares - exactamente o que se pretende repor no principal projecto de plantio de árvores na Amazónia.

Pelas imagens de satélite, 83% da área desmatada, inclusive em reservas ambientais e terras indígenas, virou pasto ou lavoura no período. "Os acordos antidesmatamento junto a cadeias produtivas relevantes, como da carne e da soja, afrouxaram", alerta Carlos Souza, coordenador de monitorização do Imazon.

O controlo é tecnicamente viável, conforme demonstram inovações da empresa Terras, de Belém (PA): um aplicativo que cruza dados ambientais e produtivos das fazendas dá suporte à libertação de crédito rural por bancos que não querem financiar o desmatamento. Ágil na análise, o novo sistema cadastrou 18 mil propriedades na base do Banco da Amazónia, com projecto de atingir um total de 200 mil até 2020 na região. A ideia da startup paraense, uma das seleccionadas pelo programa global de acesso a investimento em conservação NatureVest, é criar no mercado uma vitrine de quem opera na perspectiva do desmatamento zero.

O aplicativo Alerta Clima Indígena, usado por diferentes etnias para vigilância e melhor uso da floresta, permite o fácil controlo por celular, com recursos do Google e menor necessidade de internet. Alguns grupos fiscalizam invasões por assentamentos agrícolas, outros monitorizam fogo e pesca ilegal e captam pontos geográficos por satélite para demarcação da área.

"O resultado é a maior autonomia sobre as informações do território, sem dependência de órgãos de governo", explica Fernanda Bortolotto, coordenadora do projecto no Instituto de Pesquisa da Amazónia (Ipam).

Outras inovações incluem a produção madeireira sustentável. Na Floresta Nacional do Jamari, área pública federal aberta ao uso económico por meio do manejo sustentável, 46 mil hectares são explorados pela empresa Amata, que usa imagens de satélite para a selecção das árvores que serão cortadas com menor impacto possível. Para manter a integridade da floresta são cortados de 10 a 15 metros cúbicos de madeira por hectare, metade do permitido por lei.

Há quem defenda substituir o produto florestal. Muito longe da Amazónia, na Serra de Guaramiranga, no Ceará, o inusitado Hotel Vale das Nuvens foi erguido com "madeira" de plástico reciclado. O seu fundador, o engenheiro civil Joaquim Caracas, orgulha-se da tecnologia que poupa árvores e dá um melhor destino ao plástico que iria para o lixo.

Beto Veríssimo, director de programas do Centro de Empreendedorismo da Amazónia, em Belém (PA), pensa diferente: "Para se combater o desmatamento, a economia precisa estar a favor da floresta e não contra ela". Para ele, a combinação de tecnologias é a saída para maior valorização das árvores em pé em detrimento de actividades que as derrubam. "Temos 20 milhões de habitantes e não podemos sempre esperar acções do governo", ressalta o director.

(artigo publicado na edição 506 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Janeiro de 2018, disponível em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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Nota: Pelo segundo ano, o Expansão integra o projecto Solutions&Co que, este ano, arrancou a 3 de Dezembro, data de início da COP 24, Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Durante várias semanas, divulgamos projectos empresariais amigos do ambiente de vários países.