Estado não foi um mero regulador na ascensão da indústria transformadora colonial
No nosso texto anterior, indicámos ser uma noção simplista a ideia segundo a qual qualquer intervenção do Estado é incapaz de produzir um bem socialmente útil e desejável, como é o caso de uma transformação estrutural da economia onde se dá a intervenção. Hoje vamos analisar a ascensão da indústria transformadora no período colonial para ilustrarmos este nosso ponto.
A obra de Ana Neto Industrialização de Angola: reflexão sobre a experiência da administração portuguesa: 1961-1975, publicada em 1991, mostra-nos que Angola desenvolveu um sector industrial estruturado em indústrias ligeiras, que incluía a indústria alimentar e uma indústria pesada , representando este sector (combinado) 41% do PIB em 1973. A indústria transformadora era composta, em ordem de importância, essencialmente pelo subsector da indústria alimentar, têxtil e de bebidas.
Essa indústria era também a mais dinâmica com uma taxa média de crescimento de 22%. A estrutura do PIB de Angola no final do período colonial fazia da economia angolana um exemplo de sucesso de um processo de transformação estrutural. Era notável um certo declínio do sector primário, i.e. agricultura, saindo de uma contribuição de 32% do PIB em 1966 para 23% em 1970, ao passo que o sector da indústria transformadora registou um crescimento de 16% em 1965 para 25% em 1973.
Essa ascensão da indústria transformadora no período colonial é usualmente explicada dentro do que na literatura se denomina por transição agrária clássica, onde os lucros do sector da agricultura (no contexto angolano seriam os lucros do sector do café) eram reinvestidos em sectores mais produtivos, i.e., na indústria transformadora (cf. Neto, 1991). Todavia, o que esta narrativa não faz transparecer é que o rápido crescimento do sector do café, particularmente depois da II Guerra Mundial, no período de 1946 a 1972, só foi possível através de um acelerado processo de expropriação de terras cafeícolas da população negra africana de Angola (Birmingham, 2002, p. 140). (...)
(Leia o artigo integral na edição 516 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Março de 2019, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)